

4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa
Na plenária final da 4a Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa a delegação do Rio Grande do Sul, depois de um embate com a mesa que dirigia os trabalhos, declarou que se retirava do processo oficial de encerramento. Os gaúchos discordaram da forma de votação das propostas que iriam para o relatório final.
A dissidência criou uma divisão na plateia e parte das 500 pessoas que estavam nesse momento ficou sem entender os motivos para essa atitude.
O Jornal da 3a Idade conversou, logo após o episódio com Jussara Rauth, presidente do Conselho Estadual do Idoso do Rio Grande do Sul. Ela é uma referência para quem estuda o envelhecimento do Brasil. Gerontóloga e doutora em Serviço Social, conselheira plena da SBGG- Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e ex-conselheira do CNDI- Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, foi uma daquelas pessoas que trabalharam muito para a criação da Política Nacional do Idoso.

Jornal da 3a Idade- Prof.ª Jussara, o que aconteceu para a delegação do Rio Grande do Sul se revoltar a ponto de querer se retirar da plenária final da 4a Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa?
Prof.ª Jussara Rauth– Na plenária inicial nós já tivemos a abertura dos trabalhos de uma forma muito confusa, com a mesma coordenação da plenária final. Na plenária inicial, aonde foi aprovado o regimento da conferência, ficou consentido que na plenária final cada proposta seria apresentada, com a possibilidade de ser alterada, melhorada, como é comum no espaço da democracia. A plenária final de toda conferência é o espaço soberano. No começo da plenária final foi lido o regimento interno- para todos relembrarem- e foram lidas as propostas e dado o início do processo de votação. Na segunda proposta, que tratava da questão de reajuste da previdência social que sabemos é o assunto que mais mobiliza os idosos, foram pedidos vários destaques. Nesse momento a coordenadora da mesa, que é uma funcionária da Secretaria dos Direitos Humanos, resolveu mudar a regra do jogo e propôs que se cessasse o debate e passasse a trabalhar por aclamação.
Jornal da 3a Idade – Qual foi o argumento para que aclamação fosse aceita?
Prof.ª Jussara Rauth– A mesa defendeu que os grupos- que tinham em média de 54 a 60 pessoas- seriam legítimos para decidir as propostas e que elas não precisavam mais de discussão e emendas e que poderiam ser aprovadas por aclamação. Na prática estava se propondo que 60 pessoas decidissem uma proposta por 600 pessoas.
Jornal da 3a Idade – Porque então a maioria da plenária acatou o processo de aclamação?
Prof.ª Jussara Rauth– O que nós interpretamos, enquanto delegação do Rio Grande do Sul, é que as pessoas presentes não tiveram clareza do que estavam votando. Faltou entendimento. Uma conferência que debate emponderamento e protagonismo não pode deixar de influenciar, como soberana, as propostas finais. Em discordância a esse processo de condução da mesa é que nos retiramos. Não concordamos que a coordenadora da mesa tomasse uma atitude dessa, que não tinha amparo no regimento da conferência.
Jornal da 3a Idade – O que fez a delegação do Rio Grande do Sul voltar a plenária depois?
Prof.ª Jussara Rauth– O presidente do CNDI solicitou que voltássemos e apresentássemos por escrito toda essa posição que coloquei aqui.
Jornal da 3a Idade – A senhora que ajudou a organizar as três conferências anteriores, como avalia a realização dessa conferência do idoso, feita em conjunto com as conferências de outros segmentos?
Prof.ª Jussara Rauth– Desde o começo, de maneira geral, o CNDI não concordava com a realização das conferências conjuntas. No final houve uma posição da Secretaria de Direitos Humanos que questionava se os idosos queriam correr o risco de ser o único seguimento discordante. O que foi deixado claro pela SDH é que fazendo separado os idosos perderiam a grande estrutura que estava sendo preparada para as conferências conjuntas e que ficariam de fora da oportunidade de integração que era a grande proposta.
Jornal da 3a Idade – Houve espaço para essa integração e intercambio durante as conferências conjuntas?

Prof.ª Jussara Rauth– Não. Pelo contrário a manifestação LGBT na plenária final para denunciar o preconceito sofrido por duas idosas, durante o evento, e não entendido pela plenária, deixou isso claro. A infraestrutura não foi melhor. Tivemos problemas de transporte desde a chegada. Café da manhã nos hotéis não funcionou. O translado da saída da conferência diariamente para os hotéis não funcionou. Na saída hoje pela manhã ( último dia da conferência) os hotéis estavam cobrando os almoços, quando isso já fazia parte do pacote do evento. Tinha idoso ficando apavorado. A única coisa que todos elogiaram foi a alimentação servida nos restaurantes do local do evento, de boa qualidade.
Jornal da 3a Idade – Com toda a sua tradição de trabalho pela causa dos idosos a senhora sai chateada dessa conferência?
Prof.ª Jussara Rauth– Estou saindo muito triste da 4a Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa. Como conselheira do CNDI, até dezembro de 2014, eu trabalhei muito para que ela acontecesse e tivesse exito. Eu tinha muita expectativa em relação a essa conferência. Eu acho que o governo e a sociedade civil representada nacionalmente pelo CNDI, não está efetivamente preocupada com a situação do idoso.
Jornal da 3a Idade – A senhora concorda que ficou faltando aquele momento, que existiu nas conferências anteriores, de homenagem aos mais velhos, que se destacaram no trabalho a favor dos idosos?
Prof.ª Jussara Rauth– Tudo isso se perdeu. Mesmo o entendimento de emponderamento não ficou claro. A pessoa mais idosa da delegação do Rio Grande do Sul, que subiu ao palco com a bandeira do nosso Estado para defender nosso ponto de vista, foi vaiada pelos outros idosos. Ela estava exercendo o seu emponderamento e o seu protagonismo, independente de concordarem ou não impediram que ela se manifestasse. Foi triste.
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