

A Rede Solidária de Formação em Envelhecimento que tem realizado um gesto concreto de trabalho com os idosos, levando informação sobre direitos e leis, explicando o que faz a Pastoral da Pessoa Idosa e buscando identificar pessoas que possam se tornar novos líderes na missão da PPI, realizou ontem, na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul da Capital, em São Paulo mais um encontro.
No encerramento dele, o convite feito pela gerente do Centro Dia do Idoso, Rejane Santos, para voltar a fazer uma segunda reunião de formação e a manifestação de duas moradoras- Janete e Walfrida- interessadas em criar a PPI local, mostra a importância da continuidade da realização da Rede Solidaria. As senhoras, atuantes na paróquia Nossa Senhora do Paraíso, apontaram a necessidade de um trabalho de acompanhamento aos muitos idosos locais.
Na nossa comunidade a maioria das pessoas saem cedo para trabalhar e voltam somente no começo da noite. Nós temos muitos idosos que ficam sozinhos, muitas vezes doentes. Pelo que a Dra. Conceição disse não é um trabalho complicado montar a PPI e acho que se explicarem tudo direitinho a gente consegue fazer, falou Walfrida Soares dos Santos, que faz parte também do grupo de caminhada de uma das três UBS da comunidade.
A coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa da Arquidiocese de São Paulo, a advogada Conceição Aparecida de Carvalho contente por ter alcançado o seu propósito no trabalho da Rede Solidaria, explicou que vai apresentar esse resultado para a coordenadora da PPI na Arquidiocese do Campo Limpo, que abrange a região de Paraisópolis.
Fiquei feliz de logo no primeiro encontro já conseguirmos sensibilizar duas lideranças locais a nos ajudar no trabalho de acompanhamento aos idosos, que é a missão mais importante da PPI. A conversa com o Padre Pedro, que atua nas paróquias de São José e Nossa Senhora do Paraíso, as duas católicas em Paraisópolis, que abriu o encontro com um momento de espiritualidade, deixou claro o interesse em ampliar o trabalho da Pastoral, declarou a coordenadora da PPI.
Paraisópolis – A comunidade de Paraisópolis é considerada uma cidade dentro da cidade de São Paulo. No Censo do IBGE de 2010 a população estava próxima dos 56 mil moradores em 16.827 domicílios. Naquela época, uma comparação com os demais municípios do Estado apontou que se fosse uma cidade, Paraisópolis seria a 114ª entre 645 cidades paulistas em população. Com uma população bastante flutuante, formada basicamente por migrantes nordestinos, em 2017 acredita-se que o total de moradores tenha tido um aumento significativo. As ONG que atuam no território trabalham com uma estimativa de cerca de 100 mil pessoas, sendo 10% de idosos e mais de 17.500 moradias.
O evento– Com a presença de cerca de 60 pessoas, convidados pela Associação de Moradores e pela Associação das Mulheres, o encontro foi organizado nas dependências do Centro-Dia do Idoso, inaugurado pela Prefeitura de São Paulo em dezembro de 2016.
O CD está localizado num espaço físico privilegiado da comunidade e por isso vem se tornando um ponto de encontro para eventos. O CD mantido pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e gerido pela Associação de Moradores de Paraisópolis, tem cozinha, refeitório, banheiros adaptados, sala de descanso, sala de atendimento e sala para atividades.
O encontro aconteceu no Centro Dia de Paraisópolis, através de um convite recebido pelo Dr. Delton Esteves Pastore, promotor de Justiça de Direitos Humanos, da Área do Idoso do Ministério Público do Estado de São Paulo, um dos criadores da Rede de Solidariedade, cuja atuação foi fundamental para que os moradores conquistassem a construção do Centro Dia.
A palestra da Rede Solidaria fez parte da programação que está sendo feito com várias atividades culturais, para comemorar o aniversário da comunidade, festejado anualmente em 16 de setembro.
A programação, além da apresentação da PPI e do Dr. Delton, contou com a palestra da Dra. Bibiana Greeff, Doutora em Direito, Professora da graduação e pós-graduação em Gerontologia da EACH/USP e do programa de pós da Faculdade de Direito da USP.
A Dra. Bibiana, que acabou de voltar dos Estados Unidos onde aconteceu o Encontro Mundial de Geriatria e Gerontologia, falou sobre o projeto Bairro Amigo do Idoso, que existe em várias cidades do mundo e que em São Paulo já foi trabalhado em três bairros: Vila Clementino, Mooca e Brás.
Ela contou das várias etapas que um bairro precisa para ser considerado “amigo do idoso” e que essa deve ser um objetivo de todas as comunidades, pois além da conscientização das questões do envelhecimento, também é uma oportunidade dos moradores buscarem melhorias junto aos poderes públicos.
Demandas dos idosos locais– As colocações feitas pelos idosos deixaram claro que a comunidade se ressente da presença mais afirmativa do Estado. Para toda a população existem 3 UBS- Unidade Básica de Saúde, 1 CAPS- Centro de Atenção Psicossocial e 1 AMA- Assistência Médica Ambulatorial. A distribuição de remédios não tem faltado, mas está sendo mais regulada. Alguns moradores apontaram que usuários da região, que não encontram remédios em suas UBS estão usando os estoques de Paraisópolis e que isso começa a preocupar.
Foi unanime a queixa pela falta de um NCI- Núcleo de Convivência de Idosos. Muitos pessoas que construíram as primeiras casas no lugar, hoje envelhecidas, sem trabalhar fora, ficam sem atividades, sedentários, assistindo televisão o dia inteiro. A Associação das Mulheres de Paraisópolis mantém um grupo de caminhada, mas além de precisar de um local para ampliá-lo, não tem atividades para os homens.
A falta de moradia, que causou a origem da comunidade nos anos 50, é problema grave entre os idosos. A construção da sua casa, mesmo simples, foi uma vitória de vida para muitos que chegaram em São Paulo sem nada. Hoje sem renda, ou somente com o BPC-Benefício de Prestação Continuada, muitos idosos se veem obrigados a ceder para filhos e netos e eles voltam a ficar na dependência do aluguel. Uma casa de dois cômodos em Paraisópolis não sai por menos de R$600,00.
Conhecer os marcos históricos da cidade de São Paulo, onde estão há décadas é o sonho de muitos.
A coordenadora do CRAS- Centro de Referência de Assistência Social de Paraisópolis, a assistente social, Ladir Rodrigues Alves, que há 17 anos trabalha na região de Campo Limpo, disse na sua fala durante o debate, que muitos idosos não conhecem o Teatro Municipal, nunca foram ao MASP, que adorariam conhecer locais públicos, mas que falta apoio para esse espaço de trabalho cultural na comunidade.