Jorge Wagner G.R.Lopes, presidente do Conselho Estadual do Idoso do Amazonas. Foto: Jornal da 3a IdadeJorge Wagner G.R.Lopes, presidente do Conselho Estadual do Idoso do Amazonas, na 4a Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, em Brasília. Foto: Jornal da 3a Idade
Jorge Wagner G. R. Lopes presidente do Conselho Estadual do Idoso do Estado do Amazonas, que há 23 anos atua na área de gestão governamental e que sempre foi um grande incentivador da Política Nacional do Idoso, no Amazonas, conversou com o Jornal da 3ª Idade, no último dia da 4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, em Brasília.
Ele falou dos avanços alcançados no seu Estado e destacou o trabalho em rede que conseguiram desenvolver através do Centro Estadual da Pessoa Idosa, inaugurado desde 2008. Ele também lamenta que outros velhos problemas, específicos do Estado, continuem sem solução.
O Amazonas é o Estado com a maior população indígena do país e, segundo ele, ainda não encontrou uma maneira de trabalhar uma política adequada aos indígenas idosos. Questões como a cobrança de passagem nas embarcações, persistem sem a fiscalização que obrigue os donos de embarcação a cumprir a lei.
Jornal da 3ª Idade – Quantas pessoas fizeram parte da delegação do Amazonas, para a 4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa?
Jorge Wagner Lopes – Nós deveríamos estar presente com 10 pessoas, mas acabamos em seis participantes.
Jornal da 3ª Idade– Mas o maior Estado do país em dimensões territoriais participou com delegações mais robustas nas conferências anteriores.
Jorge Wagner Lopes – Os representantes governamentais não conseguiram que o governo pagasse as passagens.
Jornal da 3ª Idade – Quais são as principais propostas do Amazonas para desenvolver melhor o trabalho com os idosos?
Jorge Wagner Lopes – Nossa questão maior é o financiamento. Não existe política pública sem financiamento. Temos que escolher caminhos para isso. A apresentação de projetos é uma via, mas eu defendo que temos que envolver os políticos na garantia de financiamento para os nossos trabalhos. Temos que trabalhar junto com os nossos representantes.
Jornal da 3ª Idade – O CEI do Amazonas já conseguiu criar o Fundo Estadual do Idoso?
Jorge Wagner Lopes – Ainda não, mas estamos empenhados nisso. Temos no Amazonas uma política demonstrativa de equipamentos e ações, mas não temos ainda como captar recursos para ampliar o que já conseguimos.
Jornal da 3ª Idade – Quantos municípios tem no Amazonas? Todos têm o CMI criado?
Jorge Wagner Lopes – Nós temos 62 municípios, mas somente em 28 conseguimos criar os conselhos.
Jornal da 3ª Idade – E esse estão funcionando bem?
Jorge Wagner Lopes– Infelizmente não funcionam, porque toda vez que muda o Prefeito nós perdemos o trabalho feito com a equipe que sai. Nosso trabalho está exatamente em fazer com que as pessoas se apropriem da experiência e entendam que a política não é uma coisa desse ou daquele prefeito, dessa ou daquela gestão.
Jornal da 3ª Idade – Mas quais são os pontos de maior dificuldade para fazer esses conselhos funcionarem?
Jorge Wagner Lopes– É a questão da sociedade civil não estar organizada. Faltam aos grupos já existentes as documentações necessárias, ter o registro da entidade em cartório. Quando encontramos um Prefeito que quer criar o conselho, nos deparamos com a falta de interesse das pessoas em se organizar.
Jornal da 3ª Idade – Nas conferências passadas, nas quais o senhor foi bastante atuante, foram apresentadas questões específicas do envelhecimento no Amazonas. Problemas principalmente com as populações ribeirinhas. O que mudou? Foram conseguidos avanços?
Jorge Wagner Lopes – Na maior parte do Estado do Amazonas as estradas são rios. Temos uma questão grande e muito diferente no que se refere ao transporte. Por incrível que pareça não temos uma política estadual que discipline o transporte aquaviário. E essa é uma grande luta nossa. A maioria dos barcos não tem acessibilidade e não respeitam os idosos.
Jornal da 3ª Idade– Na primeira conferência nacional do idoso, em 2006, já se discutia essa questão, que atingia os idosos do Amazonas. Naquela época os barcos não respeitavam a lei e cobravam normalmente dos idosos, independente de ser 60 anos ou 65 anos. Mudou?
Jorge Wagner Lopes – Não mudou nada, continuam cobrando, independente da lei. Pior, muitos ameaçam, pois são empresas que passam de pai para filho e os mais novos não querem perder dinheiro com a isenção de tarifa. Para o idoso só resta pagar. Não temos fiscalização e muitas vezes a desculpa é a extensão territorial.
Jornal da 3ª Idade – Como é que os profissionais que trabalham com a questão do envelhecimento lidam com o envelhecimento indígena. No Amazonas está um quarto do total de índios do país.
Jorge Wagner Lopes – Essa é uma questão enorme com uma discussão ainda maior. A gente quer oferecer a lei de proteção ao índio, a gente quer ajudar o índio, mas ninguém pergunta se ele quer ser mudado. A maioria dos nossos índios estão bebendo, estão se drogando porque sai do seu habitat natural para vir para cidade e como não encontra identificação com a sua cultura e com a sua vida ele acaba se destruindo. É uma pessoa que está sendo forçada a envelhecer mais cedo.
Jornal da 3ª Idade– O que é preciso fazer para respeitar o índio idoso?
Jorge Wagner Lopes– Respeitar o índio idoso é respeitar o seu meio ambiente. Não querer mudá-lo trazendo para a cidade.
Jornal da 3ª Idade – Na primeira conferência- em 2006- tinha um grupo indígena do Amazonas que apresentou as questões específicas da sua cultura. Na segunda conferência- em 2009- tinha um grupo do Mato Grosso e um grupo de uma ONG dos arredores de Brasília. Eles fizeram apresentações e estavam articulando um movimento conjunto. O que aconteceu com esse trabalho?
Jorge Wagner Lopes– Nós tínhamos até pouco tempo uma Secretaria Indígena que trabalhava no Estado do Amazonas, mas com a mudança de governo ela foi extinta.
Jornal da 3ª Idade – Quais os trabalhos mais novos que o senhor aponta como exitoso no Amazonas?
Jorge Wagner Lopes– Nós estamos fazendo um trabalho muito sério com o Centro Estadual da Pessoa Idosa, que está dando certo. É um trabalho de rede, como está na Política Nacional do Idoso. Estamos trabalhando com cinco Secretarias, uma universidade e o Cetam que faz o trabalho de capacitação. Como o complexo tem um espaço grande a noite nós desenvolvemos um trabalho, chamado Envelhecente, para as pessoas na faixa dos 45 anos que não tem uma política para elas. Então o Centro acolhe a noite a família do próprio idoso.
Jornal da 3ª Idade – E a questão dos cuidadores? Como está esse debate no Estado?
Jorge Wagner Lopes– A Fundação Dr. Thomaz tem feito um trabalho muito sério nesse segmento, não só desenvolvendo teoria com os cursos, mas com um trabalho prático aberto para todo o Estado.
Jornal da 3ª Idade – Nos últimos meses foi bastante divulgada a universidade para a terceira idade do Amazonas. Esse é um foco atual de trabalho?
Jorge Wagner Lopes– A Universidade Aberta para a Terceira Idade do Amazonas é a única do pais que tem sede própria. Estamos inaugurando um trabalho de UATI em Tabatinga, na fronteira do Brasil, Colômbia e Peru. É um trabalho que vamos investir muito de agora em diante.