Idosos analisam empreendimentos imobiliários em Yishun - Fotos: Reprodução
Idosos analisam empreendimentos imobiliários em Yishun – Fotos: Reprodução
A “noticia” do primeiro bairro adaptado de Singapura, alardeada pela Internet em todo o mundo como uma “conquista gerontológica” deve ser lida com mais atenção.
Especialistas nesse tipo de cobertura na Europa alertam para a “possibilidade” de se tratar de um novo tipo de investimento com objetivos finais menos nobres, que precisa ser acompanhado e observado, antes de festejado.
A região de Yishun, escolhida para receber o bairro especial tem realmente uma alta concentração de pessoas com mais de 65 anos sendo muitos demenciados. Singapura tem uma média superior de idosos com problemas neurológicos, que os demais países da região. O preconceito da sociedade local é forte contra essas pessoas.
No entanto, o investimento faz parte de um empreendimento maior de uma rede hoteleira que pretende construir hospitais modelos para idosos, em vários países, sempre em parceria com governos, moldados aos interesses desses.
O bairro faz parte da estratégia de construção de uma imagem de “empresa amiga do idoso”, seguindo a orientação publicitária que está sendo disseminada em vários países e que nem sempre tem como intenção somente o bem-estar das populações mais velhas. Ser uma “empresa amiga do idoso” já começou a render muito dinheiro em várias experiências comerciais.
O que foi publicado é que a construção desse bairro será uma parceria entre o hospital Khoo Teck Puat Hospital (KTPH)e a fundação Lien Foundation, (que se especializou em projetos de como gastar menos água com as populações) juntamente com aPrefeitura de Yishun, (que não tem um programa municipal de atendimento aos idosos). A versão oficial é que esse bairro, com o objetivo de que os idosos e pessoas com demência se sintam à vontade na comunidade, vai contar com estudantes, voluntários e equipes de atendimento ao público.
O projeto será modelo e ser for considerado sucesso será o princípio da criação de comunidades adaptadas, aonde os idosos poderão viver em suas casas, longe de hospitais ou asilos. O sucesso do empreendimento será a base da propaganda da campanhaNational Senior’s Health,que tem como objetivo estimular a terceira idade a voltar a trabalhar, explicando que idosos que trabalham tem um estilo de vida saudável.
Segundo os analistas europeus, intriga o fato do ministro da saúde daquele país nunca, nas entrevistas, se referir ao bairro com números de como melhorar as condições dos demenciados que nessa área é o seu maior problema, mas sempre defender a criação de novos empregos para idosos.
“O importante é criarmos mais oportunidades para nossos idosos trabalharem. Nós estamos vivendo muito mais, e somos mais funcionais e saudáveis. Muitos idosos gostariam de continuar trabalhando para se sentirem úteis e ativos, além de poderem economizar mais antes de se aposentarem”, disse o ministro da saúde Gam Kim Yong.
Exemplo da propaganda enganosa
A tentativa de criar uma comunidade exclusiva para acomodar idosos demenciados, com a propaganda de uma qualidade de vida , como alternativa a hospitalização já fracassou na Holanda.
Depois de largamente alardeada em 2013, como um local que possuía restaurantes, mercados, salões de beleza e todas as pessoas que trabalhavam nestes estabelecimentos eram profissionais da área de saúde, médicos, enfermeiros ou assistentes sociais, o projeto afundou.
Os investidores associados ao governo local contavam com o trabalho voluntário de outros idosos, captados em campanhas sociais de ajuda e com a oferta de estágios não remunerada para estudantes de geriatria e gerontologia. Como passada a novidade ninguém se dispôs a trabalhar de graça, os custos para contratação de profissionais especializados ficaram mais caros que as assistências tradicionais, pois precisavam acrescer o tempo gasto com deslocamento e permanência naquele local.