Morreu ontem Ana Maria Primavesi, com 99 anos, referência mundial em agroecologia

Ana Maria Primavesi deixou extensa bibliografia que serve de base para estudos de solo no Brasil
Ana Maria Primavesi deixou extensa bibliografia que serve de base para estudos de solo no Brasil

O  Brasil perdeu ontem, domingo 5 de janeiro, a engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, referência mundial em agroecologia e pioneira nessa área no país. Ela tinha 99 anos e morreu em decorrência de problemas cardíacos. O centenário da pesquisadora, nascida em 3 de outubro, estava sendo preparado para ser celebrado em 2020, com vários eventos.

Nascida na Áustria,  veio para o Brasil nos anos 50, onde iniciou a carreira acadêmica e a militância  contra práticas agrícolas que levaram ao crescimento desenfreado do agronegócio nos Estados Unidos e na Europa.

Como professora da Universidade Federal de Santa Maria contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica. Fundou  a Associação da Agricultora Orgânica (AOO).

O ex-deputado  Simão Pedro, seu amigo, escreveu sobre a importante atuação dela :

Ela foi uma das pioneiras na defesa da preservação do solo e recuperação de áreas degradadas, abordando o manejo do solo de maneira integrada com o meio ambiente. Suas pesquisas apontam para uma agricultura que privilegie a atividade biológica do solo com um alto teor de matéria orgânica, evitando o revolvimento do mesmo, e substituindo o uso de de insumos químicos pela aplicação de técnicas como a da adubação verde, controle biológico de pragas, entre outros. A compreensão do solo como um organismo vivo e com diversos níveis de interação com a planta foi uma das contribuições de Primavesi para a agronomia. Quando a moda era copiar as técnicas de agricultura da Europa, ela mostrou que isso era errado, porque naquele continente que tem um inverno rigoroso e congelante, os micro-organismos ficam muito embaixo do solo, por isso a necessidade de arados fundos, diferente daqui dos trópicos que os micro-organismos ficam nos primeiros 20 centímetros do solo.

Foi professora da Universidade Federal de Santa Maria, onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado para a agricultura orgânica. Aposentada, tocou por muitos anos sua própria propriedade agrícola em Itaí, no estado de São Paulo, onde colocou em prática os conceitos da agricultura orgânica. Foi também fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AAO), uma das primeiras associações de produtores orgânicos do Brasil. Seu livro “Manejo ecologico do solo: a agricultura em regiões tropicais” é considerado uma obra de referência nas ciências agrícolas.

Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Depois, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins), agora precise descansar.

Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.   Uma perda grande, mas que nos deixa um legado perpétuo de conhecimentos muito importantes. Só podemos lhe dizer, muito obrigado, a Terra lhe agradece!