Morreu a jornalista Lais Oreb uma das criadoras do seminário Qualidade de Vida Para um Envelhecimento Saudável

Lais Fagundes Oreb, em foto do depoimento que deu para a Fundação Mauricio Granbois.
Lais Fagundes Oreb, em foto do depoimento que deu para a Fundação Mauricio Granbois.
Lais Fagundes Oreb, em foto do depoimento que deu para a Fundação Mauricio Grabois.

Somente hoje pela manhã fiquei sabendo do falecimento, na quinta-feira passada, de Laís Oreb, jornalista que estava com 83 anos, e de quem me lembro alegre, bonita e dona de uma biografia ímpar, que pode ser lida no link abaixo, escrita para um trabalho de memória da Fundação Maurício Gabrois.

Não encontrava Lais há muito tempo, mas afirmo que o movimento de idosos de São Paulo ganhou dela uma contribuição muito grande, em meados dos anos 90, sem que muitas lideranças saibam até hoje da sua real colaboração.

Como parte envolvida dessa fase da sua vida, posso testemunhar o enorme esforço que ela empreendeu para a conquista de equipamentos e projetos de lei, que idosos usufruem agora na cidade de São Paulo.

No começo de 1996 eu publiquei a primeira edição do Guia Brasileiro da 3ª Idade, uma novidade então, por ser a primeira publicação no país a disponibilizar um cadastro completo dos grupos de terceira idade, associações de aposentados, clubes de turismo de idosos e os trabalhos sociais que existiam para esse segmento.

Quando lancei, o governo federal ainda não tinha regulamentado a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso não existia.

Mandei para a Laís, companheira veterana de campanhas no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, um exemplar do Guia e logo recebi dela um telefonema entusiasmado. Queria que eu me encontrasse com um jovem vereador, professor da PUC, que tinha tido poucos votos nessa sua primeira eleição, para quem ela estava fazendo assessoria de imprensa e com quem pelejava para criar um trabalho voltado para os idosos em São Paulo.

Laís Oreb há 20 anos- como idosa, como jornalista e como militante política- já tinha uma visão muito clara das questões sociais do aumento da longevidade e da necessidade dos sindicatos unirem a questão dos idosos com a dos aposentados para uma reivindicação única.

Foi assim que numa tarde abri as portas da minha casa para um chá com ela e o então Vereador José Eduardo Cardozo, que eu não conhecia. Foi Laís quem falou o tempo todo. Queria que ele- que resistiu no começo- tivesse esse trabalho.

Contei a eles que tinha conhecido o trabalho chileno de um seminário permanente chamado Qualidade de Vida para Um Envelhecimento Saudável, que se reunia uma vez por mês na Câmara Municipal de Santiago, reunindo os grupos de idosos para discutir políticas públicas.

Em maio de 1996 só existia em São Paulo um Fórum de Terceira Idade, que se reunia há 5 anos e era coordenado por Maria Antônia Gigliotti, ex-presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso.

Acreditando que um encontro permanente ajudaria na troca de informações entre os vários trabalhos que já existiam com idosos na cidade, resolvemos criar esse fórum na Câmara Municipal de São Paulo.

No começo o gabinete só entrava com o espaço, a infraestrutura no dia e a Lais . Eu entrava com o contato com os grupos e a divulgação na minha coluna semanal do extinto jornal Diário Popular, chamada também Guia da 3ª Idade que era lida em todo o Estado, porque o proprietário do jornal era o Governador Orestes Quércia, que colocava exemplares em todos os lugares possíveis de São Paulo.

Não foi fácil organizar uma grade de palestras e convidados. Os médicos e professores que falavam sobre envelhecimento tinham medo de se envolver com um trabalho de um vereador do PT. O Prefeito era o Maluf com forte influência na área da Saúde e na época oposição radical ao partido.

Eu e a Laís trabalhamos muito para conseguir fazer a abertura do seminário permanente em 4 de junho de 1996, garantindo a presença de nomes importantes. Ela como assessora do gabinete. Eu como mera colaboradora, sem nenhuma remuneração, que apenas queria dar visibilidade para o meu trabalho de pesquisa do envelhecimento. No primeiro ano só nós duas fazíamos isso.

Foi assim que nasceu o seminário Qualidade de Vida Para um Envelhecimento Saudável que durante 4 anos colocou mais de 600 idosos, todo mês, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo, de todos os bairros e de todos os partidos e entidades e que tinha cobertura da grande imprensa. Nesse espaço de discussão nasceram fóruns, equipamentos e programas para os idosos.

O primeiro encontro tinha como tema a Campanha pela vacinação dos idosos, contra a Gripe, que as autoridades não queriam nem saber de pensar em gastar dinheiro com isso.

Deu um enorme trabalho juntar todas as pontas interessadas. A campanha era liderada na Saúde pelo geriatra João Toniolo, da Unifesp, que as pessoas identificavam com Maluf. Tinha apoio do urologista Milton Flávio, na época deputado estadual, líder do Governador Covas, do PSDB. O projeto de Lei Federal era do então deputado pelo PT, médico Eduardo Jorge. O apoio internacional era dado pelo geriatra Alexandre Kalache que exigia não passar perto de chancelas. E nos duas queríamos muito a presença do geriatra Wilson Jacob, do Hospital das Clínicas.

Foi difícil, mas conseguimos que todos estivessem presentes na abertura e que os idosos usufruíssem da oportunidade de um debate histórico. Nesse dia nasceu um abaixo assinado, que coletou 600 mil assinaturas (quando não existiam redes sociais) e que foi importante para que São Paulo fosse a primeira cidade do país a vacinar os idosos gratuitamente.

Das muitas lembranças que vou guardar da Laís vai ficar o porre de café, que tomamos no Café Floresta, que fica no Edifício Copan aonde ela morou por muitos anos, para comemorarmos. Ninguém podia beber mais que isso naquele dia.  HB.

 

Entrevista com Lais Oreb pela Fundação Mauricio Gabrois