Diretor da COHAB de S.Paulo diz que novos projetos só a partir de 2017

Arquiteto Celso Sampaio, diretor técnico da COHAB, na Vila dos Idosos. Foto: Jornal da 3ª Idade
Arquiteto Celso Sampaio, diretor técnico da COHAB, na Vila dos Idosos. Foto: Jornal da 3ª Idade
Arquiteto Celso Sampaio, diretor técnico da COHAB, na Vila dos Idosos. Foto: Jornal da 3ª Idade

Na Audiência Pública promovida pela Defensoria Pública de São Paulo, na quarta-feira, dia 6 de abril, no salão social da Vila dos Idosos, no bairro do Pari, na Capital, em São Paulo, como parte das programações da Semana Nacional de Defesa do Direito à Moradia, o tema foi locação social. 

Para explicar o que é o Programa Municipal de Locação Social da Prefeitura de São Paulo e quais as opções que ele oferece para os idosos, a reunião contou com técnicos da COHAB- Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo.

Criado em 2003 com o objetivo de atender famílias com renda de até 3 salários mínimos, o Programa realizou até hoje 4 empreendimentos, sendo que o único voltado exclusivamente para as pessoas com mais de 60 anos é o Vila dos Idosos.

O Jornal da 3ª Idade, ao final do evento, conversou com o diretor técnico da empresa estatal  que é responsável por executar políticas públicas de habitação na cidade de São Paulo e em sua região metropolitana, o arquiteto e professor universitário de arquitetura Celso A. Sampaio.

Jornal da 3ª Idade– Por que a COHAB estava na audiência pública da Defensoria Pública?

Prof. Celso Sampaio – A Defensoria Pública de SP tem feito um trabalho de apoio as comunidades com relação a esclarecimentos de diversos temas que afligem as questões sociais. E um dos temas mais prementes na cidade de São Paulo, com mais de 16 milhões de habitantes é o da moradia. Como a Defensoria Pública escolheu a Vila dos Idosos para debater o tema da locação social ela convidou as áreas da assistência social e de habitação da Prefeitura de São Paulo para participar do debate, porque são as duas áreas que atuam no tema da locação social.

Apresentação de técnicos da Secretaria de Habitação na Vila dos Idosos. Foto: Jornal da 3ª Idade
Apresentação de técnicos da Secretaria de Habitação na Vila dos Idosos. Foto: Jornal da 3ª Idade

Jornal da 3ª Idade – Como foi a conversa com as pessoas da Vila dos Idosos, nesse debate sobre locação social? Foi produtiva?

Prof. Celso Sampaio – A conversa com os idosos é sempre produtiva. A própria condição do idoso significa uma pessoa que já passou por diversas experiências e tem um acumulo em cada etapa da vida. Então além de prazeroso é proveitoso, porque eles colocam para os que são mais jovens do que eles as questões que são importantes nessa etapa da vida.

Jornal da 3ª Idade –  E como esse tipo de atuação influencia o seu trabalho na COHAB?

Prof. Celso Sampaio – Quando nós estamos discutindo com os idosos nós estamos debatendo as necessidades deles. Para mim, como arquiteto, é fundamental saber para quem eu estou projetando. Quais são as características que essas pessoas têm, as necessidades das pessoas e as expectativas delas em relação ao lugar que querem viver e morar. Então é fundamental essa troca de opinião para conhecer para quem vou trabalhar.

Jornal da 3ª Idade – O senhor acredita que a Vila dos Idosos, enquanto conjunto habitacional, é um modelo a ser seguido ou os próximos a serem construídos serão diferentes?

Prof. Celso Sampaio – Não tenho dúvidas. Esse projeto da Vila dos idosos é um modelo. Primeiro porque a locação social rompe com o paradigma da propriedade, que é estimulado há décadas no Brasil. Desde o governo de Getúlio Vargas que vem sendo discutido pela sociedade brasileira incentivos, subsídios, concessão de benefícios de alugueis. Então, historicamente a propriedade da habitação vem sendo debatida na sociedade, mas incutida na cabeça dos brasileiros o sonho da casa própria. E isso se tornou um objetivo, uma meta, algo a ser atingido. Quando na realidade o que a gente precisa é uma moradia digna, o que a gente precisa é morar bem. A gente não precisa ter raiz.

Jornal da 3ª Idade –  O modelo e os tamanhos das famílias também estão mudando. Isso não deveria estar refletido nos modelos habitacionais?

Prof. Celso Sampaio – Hoje eu posso estar nesse local e posso ter a minha família de um tamanho. Amanhã eu posso ter a família de outro tamanho e posso ter que morar em outro lugar. Eu posso quebrar a minha perna e posso ter limitações de locomoção. As necessidades das pessoas não são as mesmas ao longo da vida. Então é fundamental que eu pense, como arquiteto ou gestor público, na área que trabalho, qual o tipo melhor de moradia para cada etapa da vida.

Jornal da 3ª Idade – Existe verba, no Plano de Metas da Prefeitura de São Paulo, para a construção de novos conjuntos como esse da Vila dos Idosos?

Prof. Celso Sampaio – O dinheiro hoje é muito pouco, principalmente nesse momento da economia. Existe a vontade. O Prefeito fez um esforço muito grande nos últimos quatros anos buscando identificar os imóveis públicos que ainda restam na cidade e que podem servir para moradia. Então nós temos sim imóveis que podem ser transformados em unidades habitacionais. O Secretário de Habitação disse, na semana passada, numa entrevista ao Estado de S. Paulo que nos próximos três anos está previsto ampliar em 60% o parque habitacional de São Paulo.

Jornal da 3ª Idade –  E no momento não existe nada previsto?

Prof. Celso Sampaio – Hoje nós temos sim imóveis em que podemos construir novas unidades habitacionais. Nós estamos elaborando projetos para reforma de prédios, que estão em processo de compra, ou que já são de propriedade da COHAB. Também estamos trabalhando em projetos que serão licenciados para que a partir do próximo ano possam ser feitas novas unidades.

Jornal da 3ª Idade – Todo o processo da criação da Vila dos Idosos, até a sua inauguração, em 2007, levou quase 12 anos. Imagina-se que nos dias de hoje esse tempo todo não será mais necessário 

Prof. Celso Sampaio – Quando a gente fala que demorou 12 anos, nós estamos contabilizando também todo o período que o GARMIC (Grupo de Articulação para Moradia do Idoso da Capital) levou para junto conversar com as instâncias do Governo. Eu tive a oportunidade na gestão da Prefeitura de 2001 a 2004, de trabalhar na Vila dos Idosos. Quem elaborou esse projeto foi o arquiteto uruguaio Héctor Vigliecca, que foi contratado pela Prefeitura. Eu fiz a contratação desse projeto e entre licitação e obra nós levamos quatro anos. Então nós estamos computando no tempo todo o período de luta. O que nós escutamos nessa audiência pública foi o relato de pessoas que estão há mais de uma década lutando sem conseguir a sua casa própria. Eu acredito que a locação social é a oportunidade que o poder público tem de investir, de construir um parque de unidades habitacionais e não dispor dele no mercado. O poder reforma e continua como proprietário do imóvel.

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