A partir do próximo sábado, 6 de julho, uma série de trinta concertos gratuitos, estarão a disposição do público na Catedral da Sé, como parte das comemorações do centenário da sua Cripta, a capela mortuária que está sob seu altar-mor, 7 metros abaixo da Praça da Sé.
Reunindo grandes nomes e revelações da música instrumental e do canto coral brasileiros, as apresentações acontecerão aos sábados, às 16 horas, com capacidade entre 80 e 120 lugares cada, a depender do local onde serão realizados. Todos terão em média uma hora de duração, com transmissão ao vivo pela internet. A programação irá de julho de 2019 a março de 2020.
Os concertos serão na própria cripta e em outros locais que em geral têm acesso restrito , como os salões do piano e do coro. Será uma oportunidade inédita de paulistanos e turistas apreciarem esses locais ao som de repertórios que destacarão obras da música clássica e popular brasileira e internacional em formações tão diversas como piano solo, madrigais, canto gregoriano e até o diálogo do beatbox com estilos mais ligados ao clássico”, afirma Camilo Cassoli, Diretor Geral do Projeto.
A partir da história da Cripta, serão destacados repertórios que relacionarão diversos momentos históricos da cidade de São Paulo a partir da Praça da Sé e de sua Catedral. Ganharão destaque especial os povos que compõem a cidade, com a presença de grupos de suas diversas origens. “É muito significativo que a Catedral receba e apoie eventos como esse, que valoriza sua história, a história da cidade e de seus cidadãos, aproximando todos à nossa igreja e ao Centro de São Paulo”, afirma Luiz Eduardo Baronto, cura da Catedral da Sé.
A apresentação de estreia (06/07) será com o violonista Alessandro Penezzi, vencedor (em parceria com Yamandu Costa) do prêmio de Melhor Disco Instrumental Brasileiro de 2018 no Prêmio da Música Brasileira. Além de peças próprias para o violão solo, Penezzi apresentará obras de grandes nomes ligados ao violão paulista como Garoto, Paulinho Nogueira e Antônio Rago. Complementando o programa: “A Catedral”, de Agustín Barrios, e “Sons de Carrilhão”, de João Pernambuco: ícones do repertório mundial do instrumento que poderão ficar ainda mais interessantes no contexto da apresentação na Cripta.
Na semana seguinte (13/7), na sala do piano, será a vez do grupo Brazu Quintê se apresentar. Com peças autorais inspiradas na cultura brasileira regional. O grupo tem como marca uma inusitada união da formação de câmara com a guitarra.
Já sábado dia 20/7, será a vez do Madrigal Encanto: com um repertório com obras de Anton Brukner, John Rutter, Marlos Nobre, Dorival Caymmi e outros, apresentadas na Cripta. Até desses, estão confirmados nomes como os pianistas Laércio de Freitas, Clara Sverner e Fábio Caramuru, os duos de Maiara Moraes (flauta) / Salomão Soares (piano), os trios Caixa Cubo e Retrato Brasileiro, os madrigais Le Nuove Musiche e Encanto, além de dezenas de outras atrações.
Curiosidades sobre a Cripta
A Cripta está a 7 metros de profundidade em relação à Praça da Sé. Foi projetada pelo alemão Maximilian Emil Hehl, professor de arquitetura e engenharia da Escola Politécnica.
Abriga 32 câmaras mortuárias, 18 delas ocupadas por personagens ligados à igreja e à cidade de São Paulo.
Seguindo a tradição das catedrais europeias, a Cripta da Catedral da Sé abriga personagens fundamentais da história da cidade. Os restos mortais do cacique Tibiriçá (considerado o primeiro cidadão paulistano) e do Regente Feijó (que governou o Brasil enquanto Dom Pedro II era criança) estão no local, em túmulos com esculturas em bronze (e em tamanho real) retratando passagens de suas vidas.
Possui duas destacadas esculturas de Jó e São Jerônimo, produzidas por Francisco Leopoldo e Silva em Roma. O artista foi colega de Brecheret, com quem estudou na Academia da França.
Tem um conjunto de 4 vitrais destacando elementos da flora e agricultura presentes no Brasil. Durante a construção da Catedral, os vitrais serviam de iluminação parcial à Cripta. Com a catedral pronta, foram cobertos pela própria catedral (e hoje são destacados por iluminação elétrica). Foram produzidos pela Casa Conrado, a mesma responsável pelos vitrais do Mercadão.
Os detalhes em metal da Cripta foram fundidos em bronze no Liceu de Artes e Ofícios.
Relevos produzidos por Ferdinando Frick destacam anjos com trombetas e uma ampulheta, remetendo as cenas do juízo final.
Entre os sepultados na cripta, está o frei Bartolomeu de Gusmão: considerado o inventor do balão. Nascido em São Vicente, viveu na Espanha no Século XVII, foi acusado de bruxaria pela inquisição e inspirou um dos personagens principais de José Saramago no livro Memorial do Convento.
O corpo de Santos Dumont ficou guardado na Cripta durante julho e dezembro de 1932, na revolução constitucionalista, até ser transportado em segurança para ser sepultado no Rio de Janeiro.
O mais recente sepultado na Cripta foi Dom Paulo Evaristo Arns, em 2016. O texto em latim diante de seu mausoléu descreve sua importância pela preservação dos pelos Direitos Humanos.