
Foi bonita, emocionante e também lamentável a formatura de 220 alunos da primeira turma da UAPI- Universidade Aberta da Pessoa Idosa, na tarde da sexta-feira, 4 de dezembro.

Bonita porque teve como cenário o solene salão nobre da Faculdade de Direito da USP, que desde 1827, quando começou a funcionar a faculdade, já foi palco de alguns dos principais movimentos políticos da História do Brasil, desde o Abolicionismo, o Movimento Republicano, a campanha das Diretas e inúmeras manifestações em prol da liberdade. Lá se formaram nove Presidentes da República, vários governadores, prefeitos e outras incontáveis figuras do cenário político do país. Poucas vezes aberto ao público leigo, suas grandes janelas com pesadas cortinas vermelhas fizeram com que os idosos se sentissem num palácio.
Todo o espaço do auditório foi ocupado pelos idosos que se formavam, pelas suas famílias e convidados, pelos professores e monitores do curso.

Na mesa solene estavam: o Secretário de Cidadania e Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy, a coordenadora da Coordenadoria do Idoso da Prefeitura de São Paulo, a médica Guiomar Lopes Silva, a Profª. Rosana Puccini, da Unifesp, a Profª. Maria Cecília Carline, da Secretaria da Educação e o Coronel Rubens Casado, presidente do GCMI-Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo.
Quando é que eu podia imaginar que estaria recebendo o diploma num lugar como esse e ainda com toda a minha família podendo estar junto, disse Maria do Carmo Souza Santos, de 69 anos, moradora do bairro do Grajau, na Zona Sul, aluna da UAPI-UNIFESP de Santo Amaro. Ela foi para a cerimônia de vestido rosa rendado, acompanhada da filha Edimisia, da neta Angélica, do bisneto Richard Eduardo.
Gostaria de falar da grande emoção de estarmos comemorando a nossa formatura nesta instituição de ensino que faz parte da história do Brasil, criada em 1827 como instituição chave para o desenvolvimento da nação. Que orgulho! disse emocionada na tribuna de honra, no começo do seu discurso, Regina Camargo, escolhida pelos colegas para ser a oradora dos formandos da UAPI Vila Clementino. (discurso na íntegra)

Emocionante porque entre idosos, vindos de bairros muito diferentes na organização, de famílias distintas no poder aquisitivo, de expectativas desiguais em relação ao curso, os que ali estavam se formando tinham uma alegria em comum de terem vencido o desafio de concluir o curso e estarem sendo homenageados.
Algumas senhoras receberam por entrega flores de seus filhos. Outra teve a surpresa da família levantar uma faixa encomendada para lhe homenagear. Alguns tiveram a alegria de ver filhos e netos faltando nos seus compromissos para prestigia-los. Alguns não tinham dinheiro para pagar a passagem do familiar que não podia ir junto e teria que sair de outro lugar. Alguns foram mesmo sozinhos.

No primeiro dia de aula a sala estava lotada, muitos vieram pensando que seria um curso só voltado à informática. Porém, diante de inúmeras dificuldades alguns se afastaram. Vale destacar que, com ou sem apoio da família, muitos seguiram em frente. Alguns passaram discriminação pela idade, por se atrever a frequentar a faculdade da terceira idade, outros foram questionados em relação à qualidade do curso. Como a Prefeitura daria um curso tão bom para pessoas que não são mais se relacionam ao mercado de trabalho? disse no seu discurso Ivone Bova, oradora da turma da UAPI do CEU Aricanduva (discurso na íntegra)
Encontramos nesse projeto a oportunidade de trocar experiências de vida, fazer novas amizades, adquirir conhecimentos e contribuir para uma sociedade melhor para todos. Uma vez que muitos no período da sua juventude não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos, em virtude de inúmeras razões, como a criação dos filhos e a necessidade de trabalhar, entre outras, falou Ilza Amaral, a oradora da UAPI do CEU Cantos do Amanhecer. (discurso na íntegra)

Lamentável que uma boa iniciativa como essa fique trancada “entre muros” e não seja apropriada por todos os movimentos que trabalham com idosos na cidade de São Paulo. A falta de mais informação sobre a UAPI sempre acompanhou o projeto e foi alvo de duvidas, porque poucos sabiam como o projeto estava sendo trabalhado.
A bonita cerimônia deveria ter sido amplamente divulgada para a imprensa e as televisões. Nos últimos tempos são poucas as iniciativas favoráveis voltadas para os idosos, da parte do poder público, que tem chegado nos meios de comunicação abertos.
