Trânsito de Fortaleza, no Ceará, mata 66 idosos por ano, denuncia Promotor

Dr .Alexandre de Oliveira Alcântara,Promotor de Justiça - Ministério Público do Estado do Ceará (17ª Promotoria de Justiça Cível - Núcleo do Idoso e Pessoa com Deficiência),Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-SBGG, Rio de Janeiro(2012).

screenshot_1Na última sexta-feira, 18 de novembro de 2016, a morte de um idoso de 70 anos que estava tentando pegar o ônibus, quando caiu e foi atropelado pelo próprio veículo que passou por cima dele, na Avenida da Abolição, em Fortaleza, foi o estopim da revelação de uma situação que já vinha sendo estudada por autoridades e que agora virou uma ferrenha campanha aberta.

Na capital cearense, a cada seis dias um idoso morre no trânsito. Nos últimos cinco anos 332 idosos morreram atropelados naquela cidade, o que dá a média de 66 idosos mortos por ano e cerca de cinco por mês.

 O dado alarmante, apurado pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) está sendo divulgado pelo promotor da 17ª Promotoria de Justiça Cível de Fortaleza, Alexandre de Oliveira Alcântara, que é gerontólogo pela SBGG- Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e que nos últimos anos tem se destacado na defesa dos direitos dos idosos.

O Jornal da 3ª Idade conversou com ele para entender “a guerra” que ele está vivendo contra os que desrespeitam os direitos dos idosos em Fortaleza.

Jornal da 3ª Idade– Essa situação de falta de respeito aos idosos existe em todas as grandes cidades, mas ao que o senhor credita números negativo tão altos em Fortaleza?

Promotor de Justiça da 17ª Promotoria de Justiça Cível de Fortaleza, Alexandre de Oliveira Alcântara. Foto: MPCE
Promotor de Justiça da 17ª Promotoria de Justiça Cível de Fortaleza, Alexandre de Oliveira Alcântara. Foto: MPCE

Dr. Alexandre Alcântara– O número é alto e se deve, principalmente, a falta de educação e respeito de motoristas e população em geral sobre o cumprimento do Estatuto do Idoso, aliada as negligências do poder público. São várias as causas, mas a falta de educação de todos os envolvidos no trânsito é o principal. São muitas as mortes ocorridas em embarque e desembarque nos ônibus. Falta um treinamento aos que atuam no trânsito. Não existe investimento nessas qualificações.

Jornal da 3ª Idade– As cidades na medida que mais se industrializam e crescem passam a achar normal a pressa e os congestionamentos, o que não combina com os dados estatísticos que apontam envelhecimento de todas as cidades brasileiras. Essa falta de informação pode também ser um dos motivos?

Dr. Alexandre Alcântara– O componente da pressa resulta em graves acidentes e mortes, principalmente no transporte coletivo. O que adianta fazer viagens mais rápidas se não são realizadas com segurança e colocam a vida das pessoas em risco? A lógica não pode ser a arrecadação. Escuto também muitos relatos de idosos que relatam desrespeitos por parte dos motoristas de ônibus que “queimam” paradas e de motoristas que não esperam o idoso subir no ônibus para acelerar o veículo.

Jornal da 3ª Idade– Segundo o IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- no Ceará existem, hoje, cerca de 890 mil idosos, o que representa 10% da população. Como esse assunto deverá ser tratado, diante dessas projeções?

Dr. Alexandre Alcântara– O trânsito é mundialmente conhecido pela violência e pelo alto número de vítimas todos os dias. Daqui a alguns anos vamos ter no Brasil a sexta maior população de idosos do mundo e não estamos preparados para isso. Não estamos preparados para essa transição demográfica. Isso é fato e esse cenário de calamidade precisa ser modificado.

Jornal da 3ª Idade- Em Fortaleza, existem canais nas empresas públicas que cuidam das questões de trânsito e mobilidade urbana para denunciar irregularidades e abusos contra os idosos?

Dr. Alexandre Alcântara– A Etufor é o órgão que fiscaliza, mas é ineficaz. Não tem nenhum número 0800 para denúncias dos usuários. Já fizemos recomendações a Etufor. A qualificação dos motoristas é uma condição necessária, assim como o investimento em educação para o trânsito e do próprio idoso. Também constatamos que, nos terminais, as condições físicas são ruins, sem acessibilidade. É preciso entender que houve aumento da demanda e a estrutura precisa acompanhar isso. É uma situação complexa, mas tem que ser enfrentada.