Simpósio do ILC-BR na USP lamentou rupturas dos governos nas políticas para idosos

Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR). Foto: jornal3idade.com.br
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR). Foto: jornal3idade.com.br

Com uma plateia predominante jovem, aconteceu em São Paulo, na última sexta-feira, dia 19 de outubro, o II Simpósio Internacional sobre Políticas para o Envelhecimento – Presente, Passado e Futuro, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), em parceria com a Universidade Aberta à Terceira Idade da USP e com o patrocínio da MSD Farmacêuticas.

Capitaneado pelo médico, especialista em gerontologia e presidente do ILC-BR, Alexandre Kalache, o evento apresentou durante todo o dia várias palestras, de reconhecidas pessoas que atuam há muitos anos na área do envelhecimento.

A proposta do encontro foi fazer um balanço das políticas que foram implantadas no Brasil a favor dos idosos nos últimos 10 anos e apontar caminhos para a próxima década.

O consenso do evento ficou pela declaração de quase todos os palestrantes da falta de continuidade dos governos nos três níveis (federal, estadual e municipal), que em cada nova gestão quer deixar a sua marca.

Essa descontinuidade impossibilita que se avance nas políticas públicas. Quando entra um novo gestor ele acha que tem que deixar a sua marca, como se fosse algo privado de interesse particular e recomeça processos de trabalho que muitas vezes já estão bastante adiantados, declarou a médica geriatra da Prefeitura de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Carla Giacomin, que já foi presidente do CNDI- Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa.

Amédica Carla Giacomin, falando no II Simpósio Internacional sobre Políticas para o Envelhecimento, do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR). Foto: jornal3idade.com.br

A psicóloga e consultora de empresa na área de Gerontologia, Laura Maria Mello Machado que nos últimos anos tem atuado junto aos bancos e grandes empresas que querem investir na área do envelhecimento, citou que existe ainda muito preconceito sobre as parcerias possíveis com o setor privado. E que elas ocorrem dos dois lados.

 Gasta-se uma energia enorme num trabalho de desconstrução dos dois lados. Quando se chega a um conselho do idoso e diz que existem empresas sérias, idôneas, que querem investir logo aparecem desconfianças sobre a intenção da empresa. O principal questionamento é se vão lançar um produto ou oferecer um consignado. Por outro lado, quando se chega nas empresas e diz que 1% do lucro real pode ganhar isenção fiscal se for feita uma destinação ao Fundo Municipal do Idoso, a empresa desconfia na capacidade da gestão desses recursos. Não será possível fazer um trabalho que realmente avance se não conseguirmos mudar isso. Para mudar temos que ter conselheiros capacitados, pessoas idosas que já se aposentaram e que possam dedicar seu conhecimento para alavancar os conselhos, explicou Laura Machado.

Adriana Rovira, do Ministério do Desenvolvimento Social do Uruguai, buscou resumir iniciativas que mudaram as políticas públicas do seu país em relação aos idosos. Fez um depoimento político, apontando que 45% dos médicos do país pertenciam ao Partido Nacional, conservador, que mantinham uma política elitizada. Ela explicou que a opção por um atendimento de saúde mais global mudou as relações com os idosos. Segundo ela, parte do êxito também se deve ao Uruguai ser um país pequeno e com menos problemas financeiros, muito diferente das dimensões do Brasil.

Paulo Saad, diretor do Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (CELADE), da Divisão de População da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) fez uma retrospectiva dos sistemas de proteção aos idosos na América Latina e falou da atuação brasileira junto aos organismos internacionais. Ele confirmou o questionamento de uma participante sobre o Brasil ter apresentado seu relatório anual com atraso.

Nossa proposta foi pensar nos últimos 10 anos, no que aprendemos com as políticas no Brasil e internacionalmente para que a gente possa pensar nas políticas que precisamos para os próximos 10 anos. Há questões urgentes a serem discutidas e pensadas por experts de todos os setores para fundamentar uma “nova geração” de políticas, disse
Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR, que nos próximos dias disponibilizará o vídeo das palestras do encontro.