

A professora Lisete Arelaro, candidata pelo PSOL- Partido Socialismo e Liberdade- é a primeira mulher na história a entrar na disputa para ser governadora de São Paulo.
Pedagoga e doutora em Educação, ela está completando esse ano 50 anos de magistério. Atualmente é professora titular sênior da Faculdade de Educação da USP, onde já foi diretora e continua atuando como pesquisadora. Ela foi duas vezes secretária de Educação de Diadema, na Grande São Paulo e integrou a equipe do educador Paulo Freire, na Secretaria da Educação, na capital, durante a gestão da ex-prefeita Luiza Erundina, no começo dos anos 90.
Viúva, com 73 anos de idade ela defende, que além das suas ideias e das propostas do seu programa de governo, que a sua própria condição de idosa sirva de exemplo e motivação para outras pessoas mais velhas participarem da política.
Espero que a minha candidatura seja um incentivo aos idosos . Podemos mostrar que além de cuidar dos nossos netos- o que faremos com maior prazer- além de fazer Tai Chi Chuam, além dos bailes e do artesanato, também podemos ser candidatos, também podemos querer governar o Estado. Temos experiência para isso. Eu estou completando 50 anos de magistério, tenho mais de 70 anos e estou viajando pelo Estado todo. Se a população idosa aumenta cada vez mais, precisamos ter pessoas idosas na política defendendo seu espaço na sociedade, diz a professora.
No seu programa de governo não tem (depois da entrevista ela prometeu acrescentar) pontos específicos para os idosos, mas disse que as questões propostas para a mobilidade urbana serão também muito úteis aos idosos.
Ela contou que nos grupos de debates que serviram para levantar as prioridades do seu programa de governo apareceram questões sobre as pessoas idosas LGBT, que são duplamente discriminadas depois que envelhecem.
Infelizmente nós temos uma cultura do desrespeito aos idosos e o Estado está fazendo muito pouco para trabalhar essa mudança de comportamento. Há pouco tempo eu estava na fila do banco para pagar uma conta e escutei muitos relatos de idosos que precisam pedir ajuda de estranhos para irem ao banco, pois não confiam em filhos ou parentes. Ouvi vários relatos sobre como já tinham sido violados nos seus direitos, dentro da própria família. Uma senhora, acompanhada de uma empregada disse que ela a única pessoa em quem confiava. Olha só em que ponto estamos, falou a candidata.
A professora Lisete Arelaro comentou todas as perguntas do questionário que foi encaminhado igualmente para todos os demais candidatos, sobre alguns dos assuntos mais necessários para os idosos de São Paulo.
A entrevista é longa, mas vale a pena acompanhar.
Pergunta 1- Instituições de Longa Permanência
A pergunta foi feita pelo administrador de empresas, Gerson Ribeiro Magalhães, que atua há mais de 20 anos em ILPI- Instituição de Longa Permanência, foi vice-presidente do Conselho de Assistência Social de Guarulhos e conselheiro do Conselho Estatual do Idoso de São Paulo.
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Como a sua candidatura pretende olhar para as ILPI? O que se pode esperar para aqueles idosos que realmente não terão recursos, nem família para apoiá-los até o final?
Professora Lisete Arelaro – O que o Gerson coloca aqui é verdadeiro precisa receber uma atenção muito especial do Estado. Infelizmente essa área não está acompanhada como a urgência que o acelerado envelhecimento da população exige. Essa é uma questão grave.
O PSDB, no poder há 24 anos em São Paulo, privatizou praticamente todos os equipamentos sociais, quando transferiram áreas essenciais como essa, para as OS ou as PPP. Infelizmente o último relatório do Tribunal de Contas do Estado nos dá subsídio, para assim que começarmos nosso governo, fazermos uma auditoria em todas essas “parcerias”.
O Tribunal de Contas apontou claramente que a PPP é uma quarteirização do atendimento. O Estado contrata uma empresa por um valor que engloba todas as despesas necessárias para o serviço. Ela por sua vez pega uma empresa menor, que vai cobrar mais barato pelo mesmo trabalho e fica com a diferença e essa segunda faz a mesma coisa. O que o Tribunal de Contas apurou é que em muitos casos existem 4 empresas para o mesmo serviço, sendo que o Estado paga mais e o usuário leva menos. Isso se tratando de idoso é um crime ainda maior.
A área de Assistência Social tem que ser prioridade no governo. É preciso ter uma Ouvidoria para que as pessoas tenham onde reclamar, visitantes possam denunciar. Eu acompanhei o caso de uma ILPI que teve que ter a OS descredenciada, pois recebeu muitas denúncias de maus tratos. Só que durante muito tempo os idosos continuaram sofrendo, pois, as pessoas não encontravam canais de denúncia. Nem todas as pessoas poderão pagar casas particulares. Hoje, infelizmente, existe uma cultura de desprezo pelos idosos.
Eu proponho Auditoria nos contratos das ILPIs e a nossa proposta é de uma administração direta. O serviço público pode fazer a administração direta, porque depois do contrato assinado o próprio Estado tem dificuldade de entrar.
Quem é mais velho deve lembrar do Juqueri, onde as pessoas com problemas mentais tinham um tratamento indigno. Pois não podemos correr o risco de deixar que isso aconteça com as ILPIs.
Pergunta 2 – Transporte
A pergunta foi feita pela psicóloga Zina Costa, do Instituto Acolher, que também é coordenadora do Fórum Popular da Pessoa Idosa de Guarulhos
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Como a sua candidatura pretende abordar a questão dos transportes para idosos. Em toda a sua abrangência ela apresenta desafios que não estão sendo abordados pelos governantes. Como ficará a gratuidade nas passagens urbanas, interurbanas e interestaduais, que está na Política Nacional do Idoso, está no Estatuto do Idoso, mas em São Paulo não é obedecida pela maioria das cidades? E o transporte de pessoas idosas com necessidades especiais?
Professora Lisete Arelaro – Nós temos uma proposta de degraus mais baixos, de adaptações dos transportes. É preciso fazer uma capacitação para os profissionais. Nós defendemos a permanência dos cobradores nos ônibus, pois eles recebendo capacitação podem exercer várias funções. Eles podem ajudar cadeirantes no acesso, idosos e inclusive evitar que mulheres sejam assediadas.
Pergunta 3 – Esportes
As perguntas são feitas pelo professor Roberto Monteiro Fonseca. Ele é engenheiro formado pela UNICAMP, mora em Rio Claro e é coordenador da LIVATI- Liga Independente de Voleibol Adaptado à Terceira Idade.
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O JORI – Jogos Regionais dos Idosos é realizado pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (idealizador) e pela SELJ- Secretaria de Esportes Lazer e Juventude (executora). A SELJ tem por objetivo a difusão do esporte. Existe em vosso plano de governo algum tópico voltado para a realização de mais competições voltadas para o idoso e realizadas pela SELJ?
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A modalidade que mais agrega idosos no JORI é o voleibol adaptado e em todos os anos há modificações nas regras, o que atrapalha, e muito, o planejamento e trabalho sério. Há alguma recomendação para o próximo secretário esportes quanto à organização do JORI?
Professora Lisete Arelaro – Eu tive oportunidade de participar de uma reunião na China e lá pude ver como todos usam, todos os jardins para fazer atividade física. É uma política de Estado. Na China os esportes e as atividades físicas têm a mesma atenção de outras importantes disciplinas. Nas escolas e universidades existem horários determinados, quase sempre às 16 horas, em que todos os equipamentos de esporte ficam à disposição dos idosos da comunidade. Os chineses trabalham os idosos muito com piscina e muitas vezes só para brincar, não precisa ter disputa.
A USP tem um trabalho com os idosos que precisa ser acompanhado. É um trabalho muito bom que pode ser ampliado. Nossos Centros Esportivos também foram terceirizados e também precisam de uma auditoria. Muitos professores não querem trabalhar com idosos.
A minha proposta vai além de um torneio específico.
Eu nunca acompanhei pessoalmente um JORI, mas sei do que se trata. Minha preocupação é a mesma que tenho com a Cultura. A gente as vezes faz um grande show, gasta energia e recursos para ele acontecer, mas depois ninguém sabe o que ficou de legado. Temos que nos perguntar: quais estímulos ficaram para novos grupos aparecerem? O evento não pode ser o fim do trabalho, mas um meio de ampliar o trabalho com a comunidade. Que legado cada JORI deixa nas cidades que passou? Não pode servir somente de disputa para determinados grupos. Não pode ano a ano deixar de ampliar as equipes por onde passou. Como na Cultura tem que ir abrindo espaço para novas manifestações. Só assim vai justificar investimentos e recursos.
Nos temos no nosso programa um compromisso com ecologistas no sentido de ocupar as praças públicas com atividades para todos. Coisas como essa que temos que questionar. Depois que um JORI passa por uma cidade ele aumenta a adesão dos idosos locais para os esportes? Eu vou ficar mais atenta e como estamos ainda reformulando pontos do nosso programa, acho que temos que incluir uma atenção para o esporte para idosos. O voleibol adaptado pode ser um bom trabalho para todo o Estado.
Pergunta 4 –Demografia
A pergunta é feita pela socióloga aposentada, Celina Rangel, que trabalhou na Prefeitura de São Paulo, foi uma das idealizadoras do primeiro Núcleo de Saúde do Idoso da Região Sé, e atualmente faz parte da RPDI- Rede de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa do Centro.
- Qual a proposta que a sua candidatura oferece para trabalhar as necessidades que do crescente aumento da população idosa imporá ao Estado nos próximos anos?
Professora Lisete Arelaro – Nós temos uma Cultura de não respeito ao idoso. É preciso um trabalho do estado de orientação, de capacitação de profissionais, de aprender a usar o equipamento público através das necessidades do idosos. O Metrô é um exemplo. Aqueles meninos que fingem que estão dormindo precisavam de uma orientação. As pessoas que invadem o espaço preferencial no final da tarde, na hora mais complicada, quando muitas vezes os idosos estão voltados do médico ou mesmo da sua programação cultural do dia precisam de orientação no local. É preciso trabalhar para termos profissionais orientando em vários locais.
A primeira ideia de todo mundo é construção, obra fazer coisas, mas também é dever do Estado investir na orientação, na capacitação na forma das pessoas olharem os idosos, pois isso vai fazer a grande diferença.
Os idosos estão perdendo a confiança e isso faz a pessoa perder a vontade de viver. Sofrem violência na família que usa o seu dinheiro, não tem segurança pública nas ruas. Começa a viver em estado de tensão constante. Isso é a primeira coisa que tem que ser trabalhada.
Eu estava andando pelas ruas de Madrid, na Espanha, quando um jovem pegou no meu braço e perguntou se eu era brasileira. Quando lhe indaguei como ele sabia, ele respondeu porque eu era única idosa que estava na rua com a carteira apertada debaixo do braço. Claro que lá também tem furtos, mas as pessoas não ficam tensas. No aeroporto duas pessoas foram ao banheiro e deixaram a mala do lado de fora. Eu fiquei olhando, como guardado para eles, preocupada e eles que saíram pegaram e foram embora. Ei fiquei me perguntando quanto roubamos do nosso tempo, da nossa alegria, nossa disposição das coisas com essa tensão.
Se não trabalharmos essas questões com os idosos vamos só pensar em doenças.
Pergunta 5 –Promoção Humana
A pergunta é feita pela coordenadora da Pastoral da Pessoal Idosa, da Arquidiocese de São Paulo e da Rede de Solidaria de Formação em Envelhecimento, a advogada e Mestranda em Gerontologia, Conceição Aparecida de Carvalho.
Considerando que o envelhecimento populacional é um processo em curso em todos os países, quais são os objetivos propostos das políticas públicas de saúde que visem a promoção social, a prevenção social e a garantia dos seus direitos nos segmentos mais vulneráveis dessa população?
Pergunta 6– Investimento em equipamento público
A pergunta é feita pela Professora Eva Bettine, professora na USP Leste e presidente da ABG- Associação Brasileira de Gerontologia.
Como no seu mandato ficarão os equipamentos sociais gratuitos para os idosos. Quais estruturas já existentes ele pretende aproveitar? O que gostaria de construir?
Pergunta 7 – Lazer para a terceira idade como prevenção de Saúde
A pergunta é feita pela líder comunitária Terezinha Abreu, ex-presidente do GCMI- Grande conselho Municipal do Idoso de São Paulo, coordenadora do Fórum da Pessoa Idosa de Pirituba e Região.
Os idosos precisam de lazer, de diversão. E não temos políticas públicas nesse sentido voltado para os idosos. Infelizmente vem aumentando a depressão e o número de suicídios em pessoas com mais de 70 anos. Como seu mandato irá tratar desse assunto tão importante?
Professora Lisete Arelaro – Eu digo que essas respostas voltam para tudo que já falamos. Não se trata de somente construir e reformar equipamentos. O aumento da população idosa tem que ter um olhar diferente por parte do Estado. Por outro lado, se não tiver o envolvimento dos próprios idosos buscando legitimar seu espaço social, também não vai caminhar na velocidade que precisa.
Eu falei das praças da China e aqui também o Estado comprou equipamento e colocou nas praças. E qual a proposta comunitária de uso disso, como isso foi trabalhado nos territórios? Os ecologistas querem trabalhar esse espaço. Como podemos fazer para trabalhar juntos? Uma praça do bairro pode ser fonte de lazer, de diversão, de apresentações culturais, de capacitação dos jovens em relação ao envelhecimento. As pessoas idosas não podem continuar sendo vistas como aquele grupo de velhinhos que precisam só de ajuda ou do ônibus para o baile. Teremos mais idosos do que jovens em centenas de cidades, muito breve. O Estado tem que investir e consolidar políticas públicas para os idosos, mas são os idosos que tem que estar pautando isso, mostrando que as suas experiências de vida têm grande valor.