Prof.ª Me. Rosemeire dos Santos Vieira é professora do Curso de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e coordenadora do Simpósio Multiprofissional de novembro. Foto: jornal3idade.com.br
Todo ano, 12 de maio é lembrado como o Dia Mundial da Enfermagem, mas em 2020, com a pandemia da Covid-19 a efeméride ganhou uma comemoração diferente: sem cerimônias, mas com o reconhecimento da sociedade pelo trabalho heroico dos profissionais.
Para também render uma homenagem à categoria, o Jornal da 3a Idade entrevistou a enfermeira Rosemeire dos Santos Vieira, Professora da Disciplina Saúde do Idoso do Curso de Enfermagem da Santa Casa de São Paulo, coordenadora dos cursos de Pós-graduação (lato sensu) de Enfermagem em Gerontologia e Geriatria e da Liga Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem e Envelhecimento Ativo e Saúde da Pessoa Idosa.
Ela, que acabou de se restabelecer após ter contraído a Covid-19 atendendo idosos, continua dando suas aulas, agora de forma remota, o que é um novo aprendizado, para ela e os próprios alunos.
Jornal da 3a Idade – Como a senhora está trabalhando nesse momento da pandemia?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – Eu não estou na linha de frente. Continuo dando aula na Pós e na Graduação, só que agora de forma diferente, pelo computador, sem experiência nisso. Não temos uma empresa produtora ou uma plataforma profissional para auxiliar, faço de casa e mando para os alunos. Está sendo um aprendizado para todos, no momento, mas com influências que sabemos ficará para o futuro.
Jornal da 3a Idade – Quando começou seu trabalho de pesquisa em Gerontologia e no contato com atendimento dos idosos?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – Comecei a trabalhar em 2010. Eu não tinha experiência nessa área, minha formação era em Saúde Materno Infantil. Surgiu a oportunidade nessa nova disciplina e resolvi encarar como uma nova forma de aprendizado. Comecei a fazer um trabalho na Morada Nova Luz, quando passei a ter contato direto com as demandas do dia a dia dos idosos. Isso foi fundamental para que eu levasse para as aulas algo mais do que teoria. Logo depois eu montei na FMU um curso de Especialização em Saúde da Família e usei a Morada Nova Luz como campo de estágio para os alunos até 2013. Depois fui para O Centro de Acolhida Aconchego, que é um espaço com 1200 vagas que tem dentro um local só para homens, com mais de 65 anos. Todo esse aprendizado, acompanhando também os estágios dos alunos, foi muito importante quando comecei a coordenar uma Disciplina de Saúde do Idoso, na Santa Casa. A partir daí passamos a fazer visitas nesses centros e desenvolver projetos com esses alunos. Tudo isso culminou a criação de um grupo de pesquisa em Promoção da Saúde de Vulneráveis, que abrange crianças recém nascidas até idosos.
Jornal da 3a Idade – Qual foi seu último contato com os idosos?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – Eu e a Enfermeira Vanessa participamos, no começo de março, da Feira da Cidadania, na Praça do Patriarca ( é realizada pelo Fórum Permanente de Políticas Pública para Pessoa Idosa da Região Central de São Paulo), antes do início da quarentena. Lá atendemos vários idosos com sintomas de gripe. Uma semana antes tínhamos também feito um atendimento aos idosos na Morada São João e na Morada Nova Luz, em função do Dia Internacional da Mulher, quando além de aplicarmos a AMPI (Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa) levamos alguns presentinhos de roupa íntima e fizemos uma sessão de bem-estar com massagens.
Jornal da 3a Idade – O seminário, Promoção Saúde do Idoso, que a senhora coordena na Santa Casa de São paulo existe há quanto tempo?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – Há cinco anos. Ele começou pequeno e hoje ganhou uma proporção muito maior. A ideia central do seminário continua sendo promoção de saúde do idoso e envelhecimento ativo, mas a cada ano vamos incluindo novas discussões.
Jornal da 3a Idade – O seu aprendizado com o envelhecimento acabou se invertendo na medida que a senhora somou uma experiência prática adquirida na convivência com os idosos nos abrigos, com a teoria que tinha de professora. Isso mudou seu modo de ministrar as aulas?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – Certamente. A experiência prática é fundamental para quem vai ensinar, porque senão você vai passar apenas a teoria dos livros ou dos artigos de pesquisa. A prática transcende isso e coloca desafios. Quando comecei a ministrar aulas sobre saúde do idoso eu não tinha essa prática. Tive que buscar para que eu pudesse me sentir segura de responder os desafios que os alunos trazem do seu dia a dia. A prática nos proporciona interagir com outras áreas do saber. Até o ano passado esses centros de acolhida não tinham profissionais de saúde. Encontrei psicólogos e profissionais da educação administrando equipamento social com demandas muito profundas de saúde, com os quais aprendi muito e pude trocar.
Jornal da 3a Idade – O aprendizado da saúde do idoso ainda é alternativo nas nossas faculdades de saúde. Como é no seu curso?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – Desde que assumi em 2013, a coordenação da Faculdade de Enfermagem que venho tentando fazer com que ela deixe de ser optativa, para se transformar numa disciplina eletiva. Isso é um absurdo porque a população de idosos aumenta a cada dia e os profissionais de saúde não estão sendo preparados para essa realidade. A partir de 2017, eu consegui colocar o Curso de Especialização de Enfermagem em Geriatria e Gerontologia. Ainda não está na forma que pretendo, porque ele precisa ser multiprofissional. As pessoas pensam na saúde do idoso como tratar alguém com mais de 60 anos. Na verdade para pensar numa perspectiva de saúde real, temos que pensar na saúde desde a infância. Uma criança sem estudos, sem roupa, sem alimentação não poderá se transformar numa pessoa idosa saudável.
Jornal da 3a Idade – A senhora acredita que está crescendo o interesse dos estudantes de Enfermagem na área da saúde do idoso?
Profª. Me. Rosemeire dos Santos Vieira – O Curso de Especialização em Enfermagem em Gerontologia e Geriatria é uma boa medida pois os enfermeiros optaram por essa especialidade.
Dia Internacional da Enfermagem
Dia 12 de maio comemora-se mundialmente o Dia da Enfermagem e o Dia do Enfermeiro, em homenagem a Florence Nightingale, marco da enfermagem moderna no mundo e que nasceu em 12 de maio de 1820. No Brasil, além do Dia do Enfermeiro, entre os dias 12 e 20 de maio, comemora-se a Semana da Enfermagem, data instituída em meados dos anos 40, em homenagem a dois grandes personagens da Enfermagem no mundo: Florence Nigthingale e Ana Néri, enfermeira brasileira e a primeira a se alistar voluntariamente em combates militares.
A profissão tem origem milenar e data da época em que ser enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas convalescentes, idosos e deficientes. Durante séculos, a enfermagem vem formando profissionais em todo o mundo, comprometidos com a saúde e o bem-estar do ser humano.
O processo de enfermagem é a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano e deve ser realizado, de modo deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem.