CPI da Previdência (CPIPREV) realiza reunião deliberativa para apresentação do plano de trabalho.
Mesa:
relator da CPIPREV, senador Hélio José (PMDB-DF);
presidente da CPIPREV, senador Paulo Paim (PT-RS). Foto: Edilson Rodrigues/Agência SenadoO relator da CPIPREV, senador Hélio José (PMDB-DF); presidente da CPIPREV, senador Paulo Paim (PT-RS). Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O relatório final da CPI da Previdência, apresentado ontem pelo senador Hélio José (Pros-DF), no Senado Federal sustenta que a Previdência Social não é deficitária.
O texto deve ser votado hoje ou na próxima semana, afirmou o presidente da CPI, Paulo Paim(PT-RS). Ele concedeu vista coletiva para que os parlamentares tivessem mais prazo para analisar o relatório.
O texto de 253 páginas aponta erros na proposta de reforma apresentada pelo governo e sugere emendas à Constituição e projetos de lei. O relatório também indica providências a serem tomadas para o equilí- brio do sistema previdenciário brasileiro, como mecanismos de combate às fraudes, mais rigor na cobrança dos grandes devedores e o fim do desvio de recursos para outros setores.
Uma das propostas é aumentar para R$ 9.370 o teto dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que atualmente é de R$ 5.531,31. O relatório alega haver inconsistência de dados e de informações anunciadas pelo Executivo, que “desenham um futuro aterrorizante e inverossímil”, com o intuito de acabar com a Previdência pública e criar um campo para atuação das empresas privadas.
Depois de mais de dez horas de leitura, em que se revezou com Paim, Hélio José decidiu incluir no relatório sugestão para que sejam indiciados os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, por terem fornecido “dados enganosos” à CPI. De acordo com o relator, eles forneceram dados não confiáveis, “mentirosos e falaciosos” para defender a necessidade da reforma da Previdência frente aos parlamentares e à população brasileira. “Má gestão” Hélio José sustenta no relatório que a Previdência Social brasileira não é deficitária.
Na avaliação dele, o setor sofre com a conjunção “de uma renitente má gestão por parte do governo, que durante décadas retirou dinheiro do sistema para utilização em projetos e interesses próprios e alheios ao escopo da Previdência, protegeu empresas devedoras, aplicando uma série de programas de perdão de dívidas e mesmo ignorando a lei para que empresas devedoras continuassem a participar de programas de empréstimos e benefícios fiscais e creditícios”. Na visão do relator, não é admissível qualquer discussão sobre a ocorrência de deficit sem a prévia correção das distorções relativas ao financiamento do sistema. “Os casos emblemáticos de sonegação que recorrentemente são negligenciados por ausência de fiscalização e meios eficientes para sua efetivação são estarrecedores e representam um sumidouro de recursos de quase impossível recuperação em face da legislação vigente”, afirma. Segundo o relatório da CPI, as empresas privadas devem R$ 450 bilhões à Previdência e, para piorar a situação, conforme a Procuradoria da Fazenda Nacional, somente R$ 175 bilhões correspondem a débitos recuperáveis. Hélio José diz que o débito decorre do não repasse das contribuições dos empregadores e também da prática empresarial de reter a parcela contributiva dos trabalhadores, “o que configura um duplo malogro, pois, além de não repassar o dinheiro à Previdência, esses empresários embolsam recursos que não lhes pertencem”. Audiências A CPI foi instalada no final de abril e, desde então, promoveu 26 audiências públicas.
Para Paim, a comissão está cumprindo seu papel, apesar de ter sido ignorada pelos meios de comunicação: — Os grandes devedores da Previdência também são clientes da mídia. Sabíamos que uma CPI deste vulto não teria cobertura da grande imprensa. Mas o importante é o trabalho e vamos concluir até 6 de novembro — afirmou. Paim lembrou que 62 senadores assinaram a proposta de criação do colegiado — seriam necessárias apenas 27 assinaturas —, o que demonstra insegurança dos parlamentares em relação aos argumentos do governo em relação ao setor. O senador ainda classificou a proposta da CPI de séria, principalmente em relação aos maiores devedores do sistema. E mandou um recado: — Não pensem os grandes devedores que vai ficar como está. Vamos pra cima deles.