Pará tem dificuldade de manter idosos em casa e tem falta de EPI para profissionais nos asilos

Entrevista com a Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa do Pará, para a série Conselhos Estaduais na Covid-19

O Pará, o segundo maior Estado do Brasil em extensão territorial, está, desde o dia 20 de março, oficialmente em “situação de calamidade pública”, por causa da pandemia de coronavírus. Foi o segundo a adotar o lockdown para as suas mais populosas cidades e está com muita dificuldades de fazer a população mais pobre ficar em casa.

Para saber como o CEDPI/PA- Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa do Pará está atuando, nesse momento tão difícil, o Jornal da 3ª Idade conversou, na tarde do sábado 9 de maio, com a sua presidente, a assistente social, Bety Santos (Maria Benedita de Castro Santos, com gestão no Conselho até dezembro). Ela que é conselheira há várias gestões, como representante governamental, é solteira e está isolada na sua casa, na capital Belém.

Jornal da 3ª Idade – O  Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa do Pará – CEDPI/PA- conseguiu concretizar alguma ação específica, para os idosos mais vulneráveis, em relação a pandemia da Covid-19?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – No Conselho não conseguimos fazer nada de forma dirigida para essa pandemia, porque  estamos vivendo uma situação muito difícil. Nosso Conselho é formado, na sua maioria, por pessoas idosas, que não estão podendo sair de casa. Eu mesmo tenho 72 anos, sou do grupo de risco porque tive um câncer e sou diabética e estou isolada em casa, fazendo o possível por telefone. A vice-presidente tem 73 anos e também precisa ficar sem circular. 

Jornal da 3ª Idade – Como é formado o CEDPI/PA?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – Nós temos 14 conselheiros, sendo 7 da sociedade civil e 7 representantes do governo estadual. Os governamentais desde o início da situação de atendimento emergencial, em função da pandemia, foram requisitados para as frentes de trabalho. A gente percebe que o nosso governador está se empenhando, mandou buscar equipamentos, abriu um hospital de campanha, abriu UPAS para um atendimento inicial, mas a pandemia aqui no nosso Estado está galopante. Tanto o governador, quanto o Secretário de Saúde pegaram o corona porque ficaram à frente dos trabalhos visitando os hospitais. Nós temos um Centro de Convenções que parte dele está destinado para leitos das cinco cidades da Região Metropolitana de Belém, que é formada pelos municípios de Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara, além da própria Capital.

 

Jornal da 3ª Idade –  Quais os outros municípios, fora do cinturão metropolitano, que estão tendo mais ocorrências com os idosos?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – Marabá e Santarém são as cidades, fora da região Metropolitana, onde realmente  a pandemia tem se alastrado mais.

Jornal da 3ª Idade – Os trabalhos do CEDPI/PA estão suspensos?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – Desde o começo de março todos os trabalhos do CEDPI/PA  estão suspensos. O local de reunião do Conselho é numa casa que reúne outros conselhos de direitos. Na parte de cima da casa os conselhos e na parte de baixo uma clínica de reabilitação que teve que ser fechada por conta dos problemas de contaminação. Os conselheiros passaram a fazer trabalhos remotos, atendendo praticamente a parte burocrática de processos que já estavam em andamento. Também passamos a atender as pessoas que fazem denúncias. 

Jornal da 3ª Idade – Que tipo de denúncia tem sido mais frequente nessa época da quarentena?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – As pessoas estão denunciando falta de equipamentos de proteção para os profissionais que estão atendendo os idosos nos abrigos. Existe denúncia de negligência no atendimento mas, quase sempre, se refere a falta de EPI para os profissionais, feita pelos próprios profissionais.

Jornal da 3ª Idade – O Conselho conseguiu mobilizar ajuda direta para os abrigos de idosos?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – Enquanto Conselho não. Por conta própria, como profissional,  eu consegui com um grupo de colegas, produzir 200 máscaras e as fiz serem encaminhadas para abrigos da capital. O Conselho está encaminhando as denúncias para a Secretaria e para o Ministério Público.

Jornal da 3ª Idade – Quantas ILPI- Instituições de Longa Permanência e abrigos tem no Pará? 

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – O Conselho não tem esse levantamento. Temos duas casas monitoradas pelo Estado- Socorro Gabriel e Lar da Providência- que estão seguindo quase todas as especificações para ser ILPI e muitas casas particulares e religiosas filantrópicas, que não estão dentro das normas técnicas. 

Jornal da 3ª Idade – Quais as maiores dificuldades que a senhora aponta nesse momento, em relação aos idosos?

Bety Santos, presidente do CEDPI/PA – Em relação aos idosos e para a população em geral é falta de adesão ao isolamento. As pessoas não estão entendendo o perigo de ficar transitando. Temos ainda o desserviço do Presidente da República  incentivando a saída das pessoas. Na periferia, nas feiras, todo mundo está indo normal. A gente sabe que tem uma grande parcela da população que está desempregada que precisa das vendas  diárias para comer. Nem esse negócio de lockdown aqui funciona, o pessoal está sendo parado na rua para saber porque estão saindo, mas não adianta, existe muita resistência.

Situação da pandemia no Pará no dia da entrevista