

Ela que ensinou a importância dos idosos estarem sempre se recriando, não importando a idade, tomou para si a lição e depois de aposentada passou a trilhar o caminho da literatura. No próximo sábado 15 de dezembro Ana Cristina Passarella Brêtas vai lançar o livro Velhices e outras Coisas, que já na sua apresentação esclarece não ser uma obra sobre velhice, “versa sobre gentes que envelhecem na cidade, muitas vezes sem perceber que isso lhes acontece”.
Para o Jornal da 3ª Idade ela explicou como vem trabalhando essa nova fase de escritora e a importância das pessoas se reinventarem.
Jornal da 3a Idade– Velhices a gente sabe e o que são essas outras Coisas que a senhora cita no título?
Ana Cristina Passarella Brêtas– A ideia do livro é exatamente tirar o foco da velhice e colocá-lo nos personagens velhos e velhas. As outras coisas são as que acontecem com a gente no dia a dia, no metrô, andando na rua.
Jornal da 3a Idade– Quando nasceu a proposta de escrever o livro?
Ana Cristina Passarella Brêtas– Em 2015 eu comecei a me preparar para escrever. Eu me aposentei da carreira acadêmica de quase trinta anos e decidi que era hora de começar essa aventura de fazer literatura. Esse é o meu primeiro livro de ficção. Livros com o teor acadêmico eu tenho outros, mas esse é o que nasce com a nova proposta.
Jornal da 3a Idade– Foram quantos anos de vida acadêmica?
Ana Cristina Passarella Brêtas– Eu trabalhei 28 anos na Lá eu ajudei a construir a área da Gerontologia e me dediquei a ensino, a pesquisa e a extensão na área. Eu não sou especialista em Gerontologia eu sou uma sanitarista que trabalha com velhos e com a área da Gerontologia. E o meu olhar foi sempre dentro desse sentido nas políticas públicas, na Saúde Pública.
Jornal da 3a Idade– Falta na literatura brasileira um olhar sobre os velhos?
Ana Cristina Passarella Brêtas– Na literatura em geral sim, mas alguns escritores têm trabalhos. O Valter Hugo Mãe, com a Maquina de Fazer Espanhóis, A Trégua do Mário Benedetti e a Maria Valéria Rezende são alguns que trazem a temática do envelhecimento. Então a minha ideia foi mostrar com são os velhos e as velhas que envelhecem numa cidade como São Paulo.
Jornal da 3a Idade– Quem são os personagens idosos que estão no seu livro?
Ana Cristina Passarella Brêtas– Eu tenho um personagem que é idoso em situação de rua. Tem outro que é um idoso assediador. Personagens que vão lembrar que as pessoas envelhecem com tudo aquilo que acumularam. Não é porque a pessoa envelheceu que virou “ a boazinha”. O meu tempo presente só existe em função da minha memória. Tem um personagem que brinca com esse “velhismo” de tratar os idosos no diminutivo. Tem os idosos pacientes e impacientes dentro das UBS. Eu não desconectei a Ana enfermeira, a Ana socióloga, da Ana escritora. Como idosa eu também sou o ajuntamento de mim mesma.
Jornal da 3a Idade– É claro que a pessoa que escreve quer seu livro lido por muita gente, mas existe algum público específico que lhe interesse tocar mais particularmente?
Ana Cristina Passarella Brêtas– Eu acredito que não tem problemas de geração. Ele é um trabalho intergeracional que serve para todas as idades. Não escrevi pensando no público idoso. É para quem gosta de literatura. Pensei em vários estudantes que passaram por mim e que me ensinaram a necessidade de registrar histórias que não podem se perder. A academia me deu o rigor da comprovação e a literatura me permite ficcionar.
Jornal da 3a Idade– Como é essa vivência de tornar público algo que estava somente na sua imaginação depois de tantos anos “formatada” nos textos acadêmicos?
Ana Cristina Passarella Brêtas– É muito diferente dos outros livros em que você me perguntava e eu tinha na ponta da língua as referências teóricas e conceituais. Foi um privilégio trabalhar por décadas com idosos porque assim eu tenho a oportunidade de escolher a velha que quero ser. A questão da velhice sempre foi uma meta de vida.
Jornal da 3a Idade– Por quê se ainda nem chegou a idade marco da velhice? Os cabelos brancos é que enganam a primeira vista.
Ana Cristina Passarella Brêtas– Eu tenho 57 anos. A velhice sempre esteve presente na minha família. Eu sou de Rio Preto mas, em Piracicaba tinha uma casa da família que era para onde as pessoas iam quando enviuvavam. Nessa casa as crianças conviviam com alegria. Então o envelhecer sempre esteve presente.
Local do lançamento