

O Jornal da 3ª Idade começa a publicar hoje uma série de entrevistas feitas com candidatos que pretendem chegar ao posto mais importante do poder executivo estadual: o de Governador do Estado de São Paulo. Poderá ser também uma governadora, já que pela primeira vez uma mulher entrou na disputa.
No próximo dia 7 de outubro, quando estarão sendo realizadas as eleições em todo o Brasil, teremos somente em São Paulo, 6.710.119 pessoas com 60 anos ou mais aptas a votar, segundo informa o TRE-SP Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
Esse volume de votos corresponde a mais da metade de todos os votos recebidos pelo vencedor da última eleição para governador em São Paulo.
A população idosa de São Paulo corresponde ao dobro da população do Uruguai, o país com melhor qualidade de vida para os idosos, na América do Sul. Essa população tende a crescer cada vez mais e vai exigir cada vez mais recursos e mudanças no perfil dos gastos públicos.
A proposta dessa série é conhecer o que pensam sobre os direitos dos idosos os candidatos de todos os partidos políticos, independente da colocação nas pesquisas. Eles todos são pessoas públicas que continuarão influenciando a vida política de São Paulo, mesmo depois das eleições.
Para fazer as entrevistas foram feitos contatos com as assessorias de imprensa de cada postulante e todas receberam um questionário inicial, com perguntas elaboradas por colaboradores especiais do Jornal da 3ª Idade.
Até hoje já entrevistamos pessoalmente 5 dos 12 candidatos que querem ocupar a chefia do Palácio dos Bandeirantes. Os outros estão sendo agendados. A ordem de publicação seguirá a ordem das entrevistas feitas.
Começamos com o major do Exército Adriano da Costa e Silva, candidato a governador pelo partido Democracia Cristã. Ele tem 41 anos e é ex-professor universitário e instrutor no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) de São Paulo. É a primeira vez que se candidata a um cargo político.
Mesmo com toda a experiência de 24 anos nas forças armadas, boa parte desse tempo no comando de tropas, não esconde que já se assustou com algumas coisas que viu recentemente no meio político.
Cordial e simpático durante quase toda a entrevista ele só se alterou um pouco quando perguntei sobre o período 1964 que ele defende “deve ser enterrado com uma pá de cal, pelos excessos cometidos de ambos os lados”.
No seu perfil no Facebook ele se define como de extrema direita e garante que essa é a sua melhor denominação “pois no Brasil isso é o mesmo que ser conservador, o mesmo que ser contra tratar bandido como bandido o mesmo que ser católico”.
A entrevista é longa, mas vale a pena acompanhar.
Jornal da 3ª Idade/Hermínia Brandão – Por que o senhor resolveu se candidatar?
Candidato Major Costa e Silva – Porque há muitos anos a gente vem repetindo que não tem em quem votar, que são sempre os mesmos, que não tem opção nova. Então eu resolvi me colocar para essa opção. Não adianta a gente falar que os outros não arregaçam as mangas, se a gente mesmo não vai fazer. Também existe um contexto atual na sociedade com todo mundo pedindo a volta dos militares. Como não existe um contexto que justifique uma intervenção armada por parte do Exército, eu e vários outros militares decidimos tirar a farda e tentar fazer essa intervenção por meio do voto.
Jornal da 3ª Idade – Fiquei intrigada com o seu perfil no Facebook. Lá o senhor se define como extrema direita. Está correto?
Candidato Major Costa e Silva – Extrema direita no Brasil é a mesma coisa de ser conservador. No Brasil se você for católico é de direita. Se você for contra ideologia de gênero na escola é de direita. Se achar que o bandido tem quer ser tratado como bandido é direita. Se se for contra partido na escola é de direita. Quanto mais ao centro você fica, mais tolerante vai ficando. Eu não tolero isso nem quem defende essas coisas.
Jornal da 3ª Idade – Quantos anos o senhor tem?
Candidato Major Costa e Silva – 41 anos.
Jornal da 3ª Idade – Então o senhor não viveu a época de 1964. O que o senhor pensa daquele período?
Candidato Major Costa e Silva – Quando o governo militar acabou em 1985 eu tinha 8 anos de idade. E o que sei dessa época é o que os meus pais e avós diziam. Eles sempre comentaram como um período tranquilo, que o povo vivia mais seguro e que o povo tinha mais paz. A minha família e todas as demais que eu conheço não tem nada a reclamar desse período. Quem reclama é quem foi para a guerrilha armada, quem assaltou banco, quem assaltou quartel, quem quis montar guerrilha. Quem quis montar uma ditadura comunista no Brasil é que reclama. O que eu escuto, e que tive oportunidade de ler, é que o governo militar deu um salto positivo para o Brasil. Pode ter havido momento de exageros, mas eles aconteceram de ambos os lados.
Jornal da 3ª Idade – E o Coronel Ustra, o senhor considera somente um exagero?
Candidato Major Costa e Silva – O pessoal gosta de acusar o Coronel Ustra de ser torturador, eu não o conheci pessoalmente, sei que era um militar de altíssimo gabarito, mas a gente tem que levar em mente que o Tenente Mendes foi morto a coronhadas, no Vale do Ribeira pelo Lamarca. Vários outros soldados foram mortos na guerrilha armada. Temos o Sargento Mario Kozel Filho que foi morto com uma bomba que explodiu no 2º Exército. Na academia tive vários professores que viveram essa época e que narravam vários horrores que viveram. Precisamos colocar uma pá de cal nesse passado, pois tivemos erros de todas as partes. Temos que olhar para frente. Não podemos viver do passado.
Jornal da 3ª Idade – São Paulo terá em 2019, primeiro ano do novo governo uma população idosa de cerca de 7 milhões de pessoas. Nossos habitantes estão vivendo mais e embora tenhamos leis criadas para dar proteção para todos, na prática nem sempre esses direitos estão sendo respeitados. Vamos precisar de mais orçamento público para os idosos. O senhor já pensou nisso?
Candidato Major Costa e Silva – Sim e me considero uma pessoa privilegiada porque conheci meus quatro avós e tenho meus pais vivos. Desde a infância até a vida adulta, eu convivi muito com meus avós e pude perceber as necessidades deles já no final. Eu também nasci numa família privilegiada. Os meus pais cuidaram dos pais deles e eu tenho certeza que junto com minhas irmãs, vamos cuidar dos meus pais. Eles nunca ficarão desamparados. Mas temos que pensar nas políticas públicas. Temos uma Previdência criada pontualmente num momento muito diferente, quando a expectativa de vida era menor e quando se acreditava que íamos continuar crescendo como população. Isso nos daria uma base de jovens na pirâmide muito maior, achavam na época que a terceira idade seria sempre minoria. Hoje isso mudou e as pessoas tem uma aposentadoria muito baixa para o momento que mais precisam.
Jornal da 3ª Idade – Essa não é a realidade da área militar, que garante boas aposentadorias.
Candidato Major Costa e Silva – Na verdade um militar não se aposenta, ele pode ser chamado a qualquer hora para servir, desde que não tenha problemas de saúde que o impeça. O que nós temos é um sistema de proteção social. O militar ao longo da vida não tem direitos trabalhistas, não tem hora extra, não tem jornada de trabalho fixa, não tem descanso obrigatório. E o desgaste é muito grande. Muitos militares quando chegam aos 45 anos já tem problemas de coluna grave. Então, nós mantemos o mesmo salário que tínhamos na ativa, até o final da vida.
Jornal da 3ª Idade – A expectativa de vida do militar também é maior, até devido ao tratamento que consegue manter ao longo da vida.
Candidato Major Costa e Silva – Sim, os militares vivem mais e pela própria prática de exercícios e condicionamento físico acaba demorando mais para adoecer.
Jornal da 3ª Idade – Como o senhor, como candidato a Governador, se preocupa diretamente em relação a terceira idade, já que teve essa experiência familiar com os avós, que lhes deram um entendimento claro da questão?
Candidato Major Costa e Silva – Primeiro temos que pensar que os problemas dos idosos não são somente de saúde. Os problemas psicológicos afetam muito mais. Meu avô faleceu recentemente com 96 anos e ele saia de casa e ia se reunir com um grupo de terceira idade. Quando perdia alguma partida, voltava e ficava jogando com ele mesmo até se superar. E partia por outro desafio. Isso era motivação e colocava a cabeça dele para funcionar. Nossa sociedade tem uma crise moral e perdem valores de família. Casais se separam com frequência e os jovens não se sentem compromissados com a família. E todos envelhecem solitários. Eu tive oportunidade de conhecer asilos que são verdadeiros depósitos de gente e alguns lugares onde as pessoas estão bem. Então sem dúvida o Estado tem que intervir nesse assunto. Temos que estudar os assuntos por segmento e buscar soluções.
Nesse ponto da conversa o Major Costa e Silva passou a responder as perguntas do questionário que foi encaminhado igualmente para todos os demais candidatos.
Pergunta 1- Instituições de Longa Permanência
A pergunta foi feita pelo administrador de empresas, Gerson Ribeiro Magalhães, que atua há mais de 20 anos em ILPI- Instituição de Longa Permanência, foi vice-presidente do Conselho de Assistência Social de Guarulhos e conselheiro do Conselho Estatual do Idoso de São Paulo.
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Como a sua candidatura pretende olhar para as ILPI? O que se pode esperar para aqueles idosos que realmente não terão recursos, nem família para apoiá-los até o final?
Candidato Major Costa e Silva – Temos aqui que fazer um paralelo coma questão da Saúde. Até pouco tempo os Planos de Saúde estavam crescendo e deixando para o SUS realmente quem precisava e essa desoneração propiciava que o SUS tivesse uma oferta de melhor qualidade. A mesma coisa na área dos idosos, na medida que a economia estava crescendo aquecida, era natural que a oferta de casas de repouso particulares fosse oferecida, principalmente para as famílias mais abastadas. Hoje a realidade do país é outra. O que a gente precisa é construir Centros de Convivência de Idosos mais bem estruturados, mais bem localizados, com mais fácil acesso, perto das famílias para tirar de dentro de casa aqueles que estão inativos e que vão acabar ficando doentes. Porque a gente fala de carência achando que ela é só financeira e muitos dos nossos idosos estão ficando doentes por falta de atenção. Temos que ampliar a construção de Centros-Dia. O asilamento deve ser a última opção.
Pergunta 2 – Transporte
A pergunta foi feita pela psicóloga Zina Costa, do Instituto Acolher, que também é coordenadora do Fórum Popular da Pessoa Idosa de Guarulhos
- Como a sua candidatura pretende abordar a questão dos transportes para idosos. Em toda a sua abrangência ela apresenta desafios que não estão sendo abordados pelos governantes. Como ficará a gratuidade nas passagens urbanas, interurbanas e interestaduais, que está na Política Nacional do Idoso, está no Estatuto do Idoso, mas em São Paulo não é obedecida pela maioria das cidades? E o transporte de pessoas idosas com necessidades especiais?
Candidato Major Costa e Silva – Eu posso comentar o exemplo da minha sogra, que mora no Interior, num sítio perto de Amparo e Bragança e tem baixa renda. Sempre que vem a São Paulo ela se utiliza da passagem gratuita. O que eu acho difícil é ela ter que ir dois dias antes, reservar, porque pela lei são dois lugares. O que a gente percebe é na maioria das vezes os ônibus saem com mais de 2 lugares vazios e idosos que precisam ficam sem poder usar. O que falta é fiscalização. São Paulo é um país e tudo aqui se torna grande. Nos temos muitas situações em que a fiscalização resolveria muitas coisas. Para as pessoas com necessidades especiais seria preciso um estudo específico. Não sei se já existe.
Pergunta 3 – Esportes
As perguntas são feitas pelo professor Roberto Monteiro Fonseca. Ele é engenheiro formado pela UNICAMP, mora em Rio Claro e é coordenador da LIVATI- Liga Independente de Voleibol Adaptado à Terceira Idade.
- O JORI – Jogos Regionais dos Idosos é realizado pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (idealizador) e pela SELJ- Secretaria de Esportes Lazer e Juventude (executora). A SELJ tem por objetivo a difusão do esporte. Existe em vosso plano de governo algum tópico voltado para a realização de mais competições voltadas para o idoso e realizadas pela SELJ?
- A modalidade que mais agrega idosos no JORI é o voleibol adaptado e em todos os anos há modificações nas regras, o que atrapalha, e muito, o planejamento e trabalho sério. Há alguma recomendação para o próximo secretário esportes quanto à organização do JORI?
Candidato Major Costa e Silva – Minha esposa adora esportes e particularmente voleibol, porque ela foi jogadora na juventude. Ela vai gostar muito de saber disso. A primeira problemática que o nosso plano tem encontrado é um alinhamento entre Estado e Prefeitura. Eu costumo dizer que mesmo quando um candidato de outro partido defende uma boa ideia eu apoio. E acho que deve ser assim para tudo. Meu partido é o Brasil. A legenda que eu estou reflete as minhas pretensões e eu tomei o cuidado de não estar envolvida em Lava jato. Isso deve ser levado para a vida executiva. Da minha parte, como governador as ações devem ser executadas. Se temos uma olimpíada que atende aos idosos ela deve ser ampliada para todo os municípios, com verbas garantidas, independente do partido que está no comando municipal. Isso as vezes isso não acontece. Eu confesso que não conheço muito as iniciativas de esporte para a terceira idade, mas esporte é motivo agregador em qualquer idade e sempre terá meu apoio.
Pergunta 4 –Demografia
A pergunta é feita pela socióloga aposentada, Celina Rangel, que trabalhou na Prefeitura de São Paulo, foi uma das idealizadoras do primeiro Núcleo de Saúde do Idoso da Região Sé, e atualmente faz parte da RPDI- Rede de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa do Centro.
- Qual a proposta que a sua candidatura oferece para trabalhar as necessidades que do crescente aumento da população idosa imporá ao Estado nos próximos anos?
Candidato Major Costa e Silva – Não tenho um plano, tenho a minha experiência pessoal, tenho a minha sensibilidade. Não teremos como fugir das necessidades e elas já estão batendo na porta. E estudar o que já existe, o que está dando certo e ampliar e fiscalizar.
Pergunta 5 –Promoção Humana
A pergunta é feita pela coordenadora da Pastoral da Pessoal Idosa, da Arquidiocese de São Paulo e da Rede de Solidaria de Formação em Envelhecimento, a advogada e Mestranda em Gerontologia, Conceição Aparecida de Carvalho.
Considerando que o envelhecimento populacional é um processo em curso em todos os países, quais são os objetivos propostos das políticas públicas de saúde que visem a promoção social, a prevenção social e a garantia dos seus direitos nos segmentos mais vulneráveis dessa população?
Candidato Major Costa e Silva – Como já disse, a prevenção de doença está muito ligada a quebra do isolamento. Os idosos precisam continuar inseridos na sociedade, atendidos pelas famílias. A minha preocupação com os Centro-Dia e os Centro de Convivência apontam nessa direção. Os hospitais e os gastos com programas também precisam de fiscalização. É uma área de muito trabalho.
Pergunta 6– Investimento em equipamento público
A pergunta é feita pela Professora Eva Bettine, professora na USP Leste e presidente da ABG- Associação Brasileira de Gerontologia.
Como no seu mandato ficarão os equipamentos sociais gratuitos para os idosos. Quais estruturas já existentes ele pretende aproveitar? O que gostaria de construir?
Candidato Major Costa e Silva – Não conheço o que existe disponível para a terceira idade, mas certamente tudo que existe será bem aproveitado. A ampliação dos Centro de Convivência, que já coloquei outras vezes, já responde um pouco essa questão.
Pergunta 7 – Lazer para a terceira idade como prevenção de Saúde