Jornada da Leitura 6.0 terá escritores falando do valor de ler para o envelhecimento saudável

Uma programação diferente, que planeja ser especial na semana de lançamento, mas que vire rotina na vida das pessoas idosas. Essa é a pretensão da Jornada da Leitura 6.0, que o Observatório do Livro vai realizar, de 7 a 9 de abril, das 16 às 18 horas, transmitido ao vivo pelo Facebook e YouTube. As inscrições são gratuitas e as vagas são limitadas.

Para discutir e intensificar a divulgação entre as pessoas idosas dos benefícios da leitura de livros para uma velhice mais saudável,  o evento terá importantes convidados, entre escritores, especialistas em gerontologia e pessoas que trabalham com idosos. Confirmado o escritor Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, o recordista de vendas, Pedro Bandeira, o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Miranda, a psicóloga Cláudia Ajzen, especialista em gerontologia e coordenadora da Universidade Aberta para Pessoas Idosas, da Unifesp, entre outros.

O projeto Clube de Leitura 6.0, que recebeu autorização do Fundo Estadual do Idoso de SP, para captação de recursos, começou um pouco antes das medidas de isolamento social da COVID-19 e até o começo de março já estava presente na vida de 1124 idosos, em 26 cidades do Estado de São Paulo. 

Os membros dos clubes leem ao menos uma obra por mês e se reúnem semanalmente para falar sobre a leitura realizada – muitos deles chegam a ler um título por semana, perfazendo a média de quase 50 livros por ano, dez vezes o índice nacional, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Ibope.

Para saber mais como o projeto nasceu e pretende se expandir para todo o Brasil, o Jornal da 3ª Idade, conversou com o seu  idealizador, também presidente do Observatório do Livro e da Leitura, o jornalista e escritor Galeno Amorim. Ele foi presidente da Biblioteca Nacional e do Cerlalc/Unesco- Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe e responsável pela criação do Plano Nacional do Livro e da Leitura. É também autor de 18 livros, entre os quais Retratos da Leitura no Brasil.  

Galeno Amorim presidente Observatório do Livro. Foto: Lídia Muradás

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade –  Como nasceu o Projeto do Clube da Leitura 6.0?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – O Clube da Leitura 6.0 nasceu no final de 2019, antes do aparecimento da pandemia. Ele foi viabilizado através do Fundo Estadual do Idoso de São Paulo, que possibilitou a captação com empresas. Várias estão participando.

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Qual o valor que receberam do Fundo Estadual do Idoso de SP?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – Não recebemos valores diretos. Na verdade, é um dinheiro que a gente mesmo viabiliza, pois captamos nas empresas. O total é de R$1milhao e 400 mil. Foi um edital de 2017, do CEI-SP que aprovou a possibilidade de captação. Tivemos dificuldades no primeiro ano, conseguimos um pouco no segundo e no terceiro, em 2019, conseguimos fechar o necessário.

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Em quantas cidades vocês pretendem implantar o Clube da Leitura 6.0? Em quantas já existem?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – Até a semana passada (20/3/2021), estávamos na vida de 1.124 idosos em 26 cidades do Estado de São Paulo. Nosso plano inicial era montar 100 clubes, em 100 cidades. Estávamos caminhando quando veio a pandemia. Começamos pela Capital, avançamos pela Grande São Paulo e começamos a ir para o Interior. A pandemia fez com que parássemos a maneira como estávamos fazendo e alguns clubes que já tinham se reunido acabamos por não considerar instalados.

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Como foi pensado o Clube, na prática?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – A ideia era formar grupos de pessoas, a partir de grupos de terceira idade, de Instituições de Longa Permanência, em diferentes locais. Começou assim e tivemos inclusive a oportunidade nos clubes que funcionaram presencial de trabalhar com a Biblioterapia, que é utilizar a leitura como uma forma terapêutica, uma forma de contar histórias com o objetivo de mobilizar as atividades dos leitores, com suas emoções a partir da identificação com os personagens. Quando falamos do que sente os personagens, estamos falando das dores da alma e isso é universal. A necessidade do isolamento social fez com que colocássemos na frente do projeto  uma ideia que já existia, a do clube virtual.

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Como ficou o Clube nesse novo formato?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – Cada clube se reúne, separadamente, numa sala virtual, pelo Google Meet, com encontros que têm duração média de uma hora a uma hora e meia. Hoje é um formato híbrido. Em alguns clubes as conversas se dão em grupos no WhatsApp, com apoio de áudios, mensagens de texto e fotos ou por videoconferência

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Vocês capacitam pessoas para serem as mediadoras?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – Capacitamos pessoas pensando na continuidade do projeto em diversos espaços. Também contratamos pessoas para serem as mediadoras, principalmente na área da Cultura, da Psicologia. Eram pessoas do projeto que foram treinadas para isso. Cada pessoa seria responsável por cinco grupos. Esse mediador foi requalificado para trabalhar em lives. Nas ILPI  temos um trabalho de entregar tablets, pois, como elas já moram juntas, possibilita o encontro físico.

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Existe algum tipo de segmento literário que vocês tenham identificado como predominante entre os idosos que já participaram do Clube?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – Como o público é muito diversificado, existe também uma bibliodiversidade interessante. Tem um público que a gente precisa começar a trabalhar com contos infantis, com poemas que não sejam longos. Tem os que preferem as crônicas. Nas mais de 1 mil pessoas já trabalhadas tem pessoas semianalfabetas. O que fazemos é ajudar cada grupo a escolher os seus livros, em função da sua experiência leitora. Temos grupos que procuram a literatura mais existencial e buscam a Marina Colasanti e a Lya Luft. Temos os grupos de literatura clássica, mas também temos grupos que inovaram. Existe uma autora nigeriana, a Chimamanda, pouco conhecida no Brasil, negra e feminista, que já foi lida em vários grupos.  

Hermínia Brandão/Jornal da 3ª Idade – Muitas pessoas idosas gostam de escrever. Nesse novo projeto não existe espaço para a pessoa idosa autora, além de leitora?

Galeno Amorim, presidente do Observatório do Livro e da Leitura – Existe sim e será lançado nesses três dias do evento. Quando se estimula as pessoas idosas a lerem, também se incentiva buscar as memórias e a vontade de registrá-las. Não precisamos transformar os mais de mil leitores em escritores, mas certamente entre eles têm gente que tem vontade de se expressar escrevendo.