São Luís, capital do Estado do Maranhão, começou ontem um lockdown, se tornando a primeira cidade do Brasil a decidir por uma extrema restrição de isolamento em meio à epidemia de coronavírus, semelhante às realizadas em locais na Europa e nos Estados Unidos.
Quando realizou a sua V Conferência Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa, em agosto de 2019, com 39 municípios dos 69 que tem conselho de idosos em pleno funcionamento ( são 217 cidade em todo o estado), o Maranhão tinha 7.075.181 habitantes, sendo deles mais de 34 mil pessoas, menos de 5% , com 60 anos ou mais. No evento realizado no Convento das Mercês, a instalação de Centros de Referência da Pessoa Idosa, com serviços e desenvolvimento de projetos culturais, foi a maior reivindicação, atrás somente do pedido de aumento nos benefícios do INSS.
O Maranhão, um dos mais pobres do país, é o sexto Estado mais atingido pela epidemia. O governo registra ocupação de 95% dos leitos das UTIs e 85% dos leitos clínicos da rede estadual reservados a pacientes infectados pelo coronavírus.
Para saber o que o CEDIMA- Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa do Maranhão está fazendo nesse momento difícil, o Jornal da 3a Idade conversou ontem com o seu presidente, Glécio Sandro Leite da Silva, que é gestor da ILPI estadual Solar do Outono e representa a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social.
Jornal da 3ª Idade– Qual é a realidade dos idosos no Estado do Maranhão hoje ( 5/5/2020) primeiro dia dessa medida extrema de lock?
Glécio Sandro Leite da Silva – Nossa realidade, nesse momento, é difícil, mas ainda mais amena, se compararmos aos idosos do resto do país. Nós temos no Estado 17 ILPI- Instituições de Longa Permanência (nome que é dado oficialmente para as casas de repouso que se encontram enquadradas dentro de todas as normas técnicas necessárias). Delas somente 5 estão enquadradas em todas as exigências técnicas necessárias para serem consideradas IPLI, sendo 3 publicas e 2 privadas. As outras 12 são abrigos filantrópicos e ainda não conseguiram cumprir todas as tipificações.Elas ficam em locais distantes, porque nosso estado é muito grande territorialmente.
Jornal da 3a Idade – Quais as ações do CEDIMA nesse momento de pandemia?
Glécio Sandro Leite da Silva – O Conselho como todos os demais órgãos diante dessa pandemia teve que suspender todas as suas atividades, até porque a maioria dos conselheiros são idosos. Nossa primeira ação foi tentar reunir todas as entidades que abrigam idosos num único cadastro, porque elas não estavam todas registradas no CEDIMA. Procuramos falar com todos os diretores de cada uma para saber quantos idosos estão acolhidos em cada unidade, quais eram as principais necessidades do momento. Com essas informações fizemos um plano de trabalho que já foi aprovado pela Secretaria de Desenvolvimento Social para que pudéssemos repassar uma ajuda de custo para essas entidades.
Jornal da 3a Idade – O que será repassado para cada uma delas? Será igual para todas?
Glécio Sandro Leite da Silva – Nós conseguimos que o repasse seja de 200 reais por pessoa idosa acolhida, por três meses. Assim será igual para todas, dependendo é claro do número de abrigados em cada lugar. Pelo edital esse repasse será por três meses, podendo ser renovado por mais três meses.
Jornal da 3a Idade – Quantos idosos estão abrigados nas 17 entidades de acolhimento?
Glécio Sandro Leite da Silva – São 332 em todo o Estado.A grande dificuldade delas é que vivem de doações e nesse momento as pessoas da sociedade não estão mais contribuindo.Elas ainda não estão zeradas, mas estão gastando o que tem. O CEDIMA fez uma parceria com a Defensoria Pública do Estado para uma ação dirigida para essas entidades, com a intenção de arrecadar fraldas, leite, mingau, esses tipos de produtos que são os que mais gastam. Isso era para começar hoje, centralizado em São Luís para repassar para o Interior, mas com a determinação do lockdown isso ficou complicado. Temos entidades com mais de 1200 quilômetros de distância.
Jornal da 3a Idade – Qual a dificuldade de colocar em prática esse plano de trabalho?
Glécio Sandro Leite da Silva – Mesmo sendo um plano emergencial, mesmo dentro de um quadro de calamidade pública, com chamamento de licitações dispensadas, ainda assim existem burocracias, necessidade de apresentação de papeladas das entidades que elas não têm. Então a dificuldade é como fazer que o governo repasse o recurso para a entidade, sem que isso se configure improbidade administrativa pela falta de documentação das instituições. Estamos com o dinheiro liberado pelo governo para o repasse, mas ainda não conseguimos fazer chegar a elas.
Jornal da 3a Idade – Como o CEDIMA vai trabalhar a questão dos idosos não abrigados?
Glécio Sandro Leite da Silva – Mesmo antes da determinação do lockdown nós fizemos uma “Reunião Interconselhos”, com todos os conselhos de direitos, que tinham basicamente duas pautas: a violência doméstica contra as mulheres nesse período de quarentena e o outro era exatamente como garantir o direito dos idosos nesse período da pandemia. Colocamos questões como a dos idosos que moram sozinhos e precisam sair para fazer suas compras, ir ao banco, fazer pagamentos.
Jornal da 3a Idade – O que foi sentido junto aos demais Conselhos?
Glécio Sandro Leite da Silva – As respostas nesse momento são pífias. O Estado na pandemia, com todos sendo atacados ao mesmo tempo, não tem como priorizar os idosos. O CEDIMA está tentando criar situações que possa priorizar, mas nada nesse sentido foi efetivado.O governo estadual contratou pessoas para atuar junto às agências da Caixa Econômica, para orientar filas, mas nada muita mais consistentes.
Jornal da 3a Idade – Existia, como em Manaus, uma proposta para que São Luís cancelasse temporáriamente a gratuidade da passagem dos idosos no transporte público. Isso poderá acontecer?
Glécio Sandro Leite da Silva – Não. Havia essa proposta, mas conseguimos num diálogo com o governo mostrar que os idosos precisam desse benefício, exatamente porque muitos moram sozinhos.O que estamos fazendo é junto com o Fórum Maranhenses das Entidades da Sociedade Civil buscar conscientizar os idosos que estão vinculados aos grupos organizados.
Jornal da 3a Idade – Quantos grupos participam desse Fórum?
Glécio Sandro Leite da Silva – São 35 entidades cadastradas no Fórum e cada uma tem pelo menos um grupo vinculado. No entanto o trabalho é mesmo de aconselhamento, via grupos de Whatsapp e redes sociais.
Jornal da 3a Idade – O governo do Maranhão fez uma operação de guerra para trazer respiradores da China sem passar pelos Estados Unidos ou São Paulo e sem parar na Receita Federal para evitar que fosse apreendidos por governos estrangeiros ou pelo próprio governo federal. Isso está trazendo algum benefício diretamente para os idosos?
Glécio Sandro Leite da Silva – O Estado conseguiu comprar 200 respiradores e fechou 2 hospitais que estavam com atendimento parados e por isso foram requisitados. Nós não temos ainda falta de leitos. O desafio é saber como serão os próximos dias, quando as pessoas das periferias começarem a ser afetadas. Hoje a necessidade dos leitos são basicamente de pessoas da região central. Nas periferias as feiras e o comércio continuam funcionando como se não houve pandemia. Esse é o maior medo. Por isso foi decretado o lockdown. São as pessoas mais carentes que sobrevivem do dia a dia e também temos que entender.
Jornal da 3a Idade – Como podemos definir o sentimento do idoso maranhense nesse momento?
Glécio Sandro Leite da Silva – De maneira geral estamos todos assustados, mas os idosos formam um público que de maneira geral está desprezando a doença. O nordestino, por ser um povo carinhoso, tende a proteger o outro mais jovem, o familiar. É normal a gente perguntar para quem está na rua porque saiu e onde está o filho e a resposta ser: “eu já vivi muito ele é que tem de se cuidar”. Isso dificulta o nosso trabalho.