

O professor de filosofia, com especialização em Psicanálise, Guilherme Boulos, de 38 anos, é o candidato do PSOL -Partido Socialismo e Liberdade, para a Prefeitura de São Paulo, considerado a novidade da Eleição Municipal de 2020.
Ele foi destaque nos últimos anos pelo ativismo político no MTST- Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o maior de luta por moradia urbana do país, presente em 13 Estados brasileiros. Embora tenha sido criado com todas as facilidades da classe média paulistana, é o único candidato que mora na periferia da cidade. Filho de dois médicos renomados, Boulos é casado e pai de dois filhos.
Como todos os candidatos que serão apresentados pela série do Jornal da 3ª Idade, o foco está nos programas voltados para a população idosa, que representa mais de 2 milhões de eleitores, sendo que deles cerca de 1 milhão e 900 mil são moradores na cidade.
No seguimento da terceira idade ele tem um diferencial: sua vice, a Deputada Federal Luiza Erundina, além de ter 85 anos, foi quem criou em 1992 o GCMI-Grande Conselho Municipal do Idoso e continuou atuante na área do envelhecimento desde então, sendo uma das assistentes sociais mais respeitadas do país.
No próximo dia 30 de outubro ele faz uma reunião virtual com a terceira idade, com algumas das principais lideranças do movimento paulistano dos idosos. Até agora é a única campanha a marcar um encontro com esse segmento. Seu Programa de Governo.
Perguntas respondidas pelo candidato Guilherme Boulos
As perguntas do Jornal da 3ª Idade
➧ No seu programa de governo para a Prefeitura de São Paulo existem projetos voltados para a população da terceira idade?
Guilherme Boulos – A atual gestão da Prefeitura acha que idoso só precisa de saúde e assistência social, ignora as outras necessidades e demandas dessa população.
Por isso, em primeiro lugar, precisamos ouvir da população idosa o que ela necessita e oferecer os instrumentos de participação como para qualquer outro munícipe. Em nosso programa, a questão da terceira idade é transversal, passando pela cultura, saúde, esporte, assistência, entre outras áreas
➧ Como a sua gestão pretende manter a participação do movimento organizado das pessoas idosas?
Guilherme Boulos – Uma das principais propostas de nossa gestão, e que nos diferencia radicalmente dos outros candidatos, é a participação popular. Nós queremos governar junto com a população e não para ela, porque só o povo pode dizer o que precisa e o que quer. Foi assim que Luiza Erundina, minha vice, governou quando foi prefeita de São Paulo. Com os idosos, não vai ser diferente: eles terão voz e serão ouvidos em nossa gestão.
As perguntas de lideranças dos idosos na Capital
Zona Leste
Jeane Silva – psicóloga e produtora cultural do Sarau Mais60 de São Miguel Paulista
Jane– Quais as propostas que o seu programa de governo tem para fomentar as produções artísticas das pessoas idosas que não querem ser somente o público que assiste?
Guilherme Boulos – A Secretaria Municipal de Cultura possui o programa vocacional, que proporciona formação em linguagens artísticas para quem quer produzir arte e cultura e não só consumir, incluindo a população idosa. Apesar de ser um bom projeto, o programa está sendo desmontado na atual gestão e sofre com falta de recursos.
No nosso governo, vamos ampliar progressivamente o orçamento da função cultura para 3% até 2024 com distribuição de recursos atendendo às carências de todas as macrorregiões da cidade. Assim, vamos investir no programa vocacional, garantindo seus recursos para manter nos bairros onde já ocorre e ampliar para outras regiões.
Jane– No seu governo, como a Secretaria Municipal de Cultura poderá inserir os idosos, visto que não temos eventos específicos ou festivais onde exista o protagonismo da pessoa idosa?
Guilherme Boulos – Na Cultura, vamos implementar o Sistema Municipal de Cultura (Conselho, Plano e Fundo) com transparência e participação efetiva da população na gestão das políticas culturais. Como já dizia Augusto Boal, atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma. Os idosos terão espaço para participar da formulação de políticas públicas da cultura e poderão criar programas, eventos e festivais específicos com seu protagonismo.
Olavo de Almeida Soares – Conselheiro do GCMI- Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, representante da Região Leste e um dos coordenadores do Fórum Regional do Direito da Pessoa Idosa de Ermelino Matarazzo e Ponte Rasa
Olavo – Existe no seu programa de governo algum projeto para a Subprefeitura de Ermelino Matarazzo? No seu governo nosso subdistrito deixará de ser de passagem e receberá serviços para a população como SPDescomplica, FAB Lab Livre, Céu, Casa da Cultura, URSI, ILPI, Prontuário Eletrônico?
Guilherme Boulos – Hoje, as periferias de São Paulo estão completamente abandonadas. Enquanto o prefeito refaz asfalto novo no Jardins, faltam médicos, escolas, espaços de cultura e políticas públicas nos bairros da Zona Leste.
Comigo e Luiza Erundina não vai ser assim. Nós temos um compromisso de vida com o povo. Não temos rabo preso com grandes empresários que financiam as campanhas e depois cobram as contas. Por isso, temos autonomia e independência para enfrentar os esquemas e inverter prioridades.
Com participação popular, vamos formular as políticas públicas para cada região, porque quem sabe melhor dos problemas e necessidades dos bairros são seus moradores. A Subprefeitura não vai ser mais um cabide de empregos para troca de favores, mas um espaço real de participação.
Vamos ampliar os recursos destinados às periferias e fortalecer as principais políticas públicas. Vamos retomar as Casas de Cultura de São Paulo, criadas na gestão de Erundina mas hoje, abandonadas e sucateadas. Os CEUs serão concluídos e ampliados, e vamos consolidar a gestão pública desses espaços, irradiadores de cidadania.
Vamos também consolidar o modelo regionalizado de saúde, como previsto no SUS, garantindo que cada distrito na cidade consiga garantir a integralidade na atenção à saúde, com a construção de equipamentos públicos necessários para isso como a URSI de Ermelino Matarazzo.
Olavo – No seu programa de governo está previsto a cobertura do terminal de ônibus junto à Estação do Metrô da Guilhermina/Esperança da linha Vermelha do Metrô, que hoje não oferece segurança e acessibilidade para os usuários?
Guilherme Boulos – A Prefeitura abandonou as periferias e a população. Em uma de minhas caminhadas ao redor da cidade, um morador me disse: “precisava ter eleição todo ano porque só assim iriam resolver os problemas”. Com a gente, não vai ser assim.
O direito à mobilidade segura e acessível é fundamental e não pode ser sucateado assim. Vamos mapear todas essas necessidades e investir nas obras públicas necessárias para resolver a cobertura bem como outras questões de acessibilidade. Eles dizem que não tem dinheiro, mas a Prefeitura tem em caixa parado 17 bilhões. É possível virar o jogo em SP!
Zona Centro
Maria Aparecida Ribeiro Costa – Conselheira e membro da atual executiva do GCMI- Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, representante da Região Centro e uma das coordenadoras do Fórum Permanente de Políticas Públicas para as Pessoas Idosas da Região Centro.
Cida Costa – Existe no seu Programa de Governo algum projeto para atender a população idosa que vive na rua, visto que existem poucos Centros de Acolhida Especial para Idosos?
Guilherme Boulos – Hoje, os serviços de acolhimento para a população em situação de rua não oferecem condições dignas: os colchões possuem pulgas e percevejos, os banheiros estão quebrados, famílias são separadas, não há lugar para os animais de estimação tampouco para instrumentos de trabalho. Por isso, muitas pessoas preferem ficar na rua e não ir para o centro de acolhida. Nós vamos alterar radicalmente essa política. Vamos fazer as casas solidárias, atendendo entre 20 a 40 pessoas no máximo. Vamos garantir a implantação de Casas-Lares e abrigos para os idosos com maior grau de complexidade e vulnerabilidade social.
Cida Costa – Temos poucas ILPI- Instituições de Longa Permanência para Idosos fragilizados, em toda cidade e, nenhuma na Região Central. Como seu governo pretende trabalhar essa necessidade?
Guilherme Boulos – Atualmente a gestão municipal conta com 08 serviços Centro de Acolhida Especial para Idosos concentrados na região central. São 11 abrigos institucionais para idosos, conhecidos também como Instituição de Longa Permanência. Mas não dão conta da demanda.
A proposta de governo é que os idosos em situação de rua sejam acolhidos por abrigos institucionais específicos para idosos. Os abrigos ou casa-lar tem por objetivo ofertar as seguranças de acolhida, alimentação, o cuidado com a higiene pessoal e a saúde integral do idoso. Prevendo inclusive a autonomia de renda com acesso ao benefício de prestação continuada (BPC) para os que não se enquadram nos critérios para aposentadoria. Também garantir o restabelecimento do vínculo familiar quando possível após a adesão dos idosos nestes serviços de longa permanência.
Para isso, investir em novas unidades onde não há cobertura de atendimento. Principalmente na modalidade de abrigo institucional (ILPI) para os idosos com grau de complexidade II e III (tendo a Saúde como apoio), implantar unidades de Casa-Lar, para até 10 idosos, com grau de complexidade I (o que não existe hoje no município de São Paulo) e ampliar o programa de república para idosos com autonomia.
Zona Centro
Maria Celina Rangel Andrade – socióloga, membro do Coletivo Envelhecer de São Paulo.
Celina – O movimento de idosos nos últimos anos entregou uma série de propostas para o Plano de Metas, que foram expurgados pela atual gestão. No seu programa de governo a participação dos idosos será respeitada? Temos como resgatar essas propostas?
Guilherme Boulos – Sim, no nosso governo vamos respeitar a participação de todos, independentemente da idade, gênero, cor. Nós vamos criar instrumentos de participação política efetivos porque quem sabe o que mais precisa é a própria população. As demandas e propostas dos movimentos de idosos são muito bem-vindas e serão acolhidas.
Zona Norte
Cel Rubens Casado – Ex-presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, representante da Região Norte e membro do Observatório de São Paulo.
Casado – No quadro da Proteção Social Básica, considerando os serviços dos Núcleos de Convivência de Idosos, a cargo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, atualmente, na Zona Norte somente 9 distritos possuem unidades. Entre os outros 9 que não têm NCI (Anhanguera, Casa Verde, Freguesia do Ó; Mandaqui, Santana, São Domingos, Tucuruvi, Vila Guilherme e Vila Medeiros) está Anhanguera, que também não têm leitos hospitalares e é o quarto distrito com menor expectativa de vida da cidade, com média de 58,87. Como a sua gestão pretende trabalhar esse problema de desigualdade de oportunidades para os idosos?
Guilherme Boulos – A política pública voltada para os idosos na cidade de São Paulo é deficitária e exigirá a participação da sociedade e das instituições sociais, como o Grande Conselho do Idoso que foi implantando na gestão da Luzia Erundina em 1989, para retomar o protagonismo dos idosos em conferências regionais e municipal para diagnosticar, avaliar e propor uma nova política pública municipal para o Idoso compreendendo os serviços de Proteção Social Básica (serviços de convivência familiar e comunitária e as unidades de Centros de Convivência do Idosos (NCI) e a construção de uma política municipal intersecretarial, considerando as demandas dos idosos em seus respectivos territórios.
Zona Sul
Madalena Costalunga – Ex-conselheira do Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, como representante da Região Sul e membro do Fórum do Cidadão Idoso da Capela do Socorro, Parelheiros e Santo Amaro.
Madalena– O que a sua gestão à frente da Prefeitura de São Paulo pretende oferecer para a terceira idade nos CDMs (Centro Desportivo Municipal), que na sua maioria encontram-se sucateados, sem programação específica para os 60+?
Guilherme Boulos – Nossa gestão vai reverter todo o sucateamento e abandono que a rede pública vem sofrendo. Vamos retomar os investimentos e a gestão pública de equipamentos de direitos fundamentais, como os CDMs. Em relação à terceira idade, vamos criar as “academias da superação” em praças públicas e CDMs adaptadas para a terceira idade. Vamos adequar instalações e praças esportivas para as particularidades que os idosos possuem.
Eunice Lopes Alves coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa da Paróquia São João Clímaco, na Região do Ipiranga e membro da Rede Solidária de Formação em Envelhecimento de São Paulo.
Eunice (Nice) – Existe no seu Programa de Governo algum projeto para melhorar o atendimento aos idosos nas UBS, visto que o atendimento preferencial multiprofissional divulgado, somente é exercido em algumas unidades?
Guilherme Boulos – No governo Boulos e Erundina, a UBS e as equipes de saúde são prioritárias. Deve ter suas portas abertas para essa população procurá-la sempre que necessário. Hoje, um dos principais problemas da saúde municipal não é a falta de equipamentos, mas a falta de médicos e outros profissionais na rede da periferia. Isso piorou ainda mais na gestão Doria/Covas. Uma de nossas primeiras ações será contratar médicos para atuar somentes nas UBS das periferias. Assim, vamos expandir os programas já existentes de atendimento especializado aos idosos, como a URSI (Unidade de Referência à Saúde do Idoso).
Zona Sul
Gasparina Alves da Costa Parussi Conselheira do GCMI- Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, representante da Região Sul e uma das coordenadoras do Fórum do Cidadão Idoso do M´Boi Mirim.
Gasparina – No seu programa de governo existe algum trabalho direcionado para a Saúde do Idoso na Região do Capão Redondo? O PAI (Programa de Acompanhante de Idoso) é uma solicitação para UBS Jardim Caiçara há muito tempo.
Guilherme Boulos – O Programa de Acompanhante do Idoso é fundamental e vamos levar o programa para a região da UBS Jardim Caiçara. Nossa chapa tem um compromisso em promover o direito à saúde. É inaceitável que faltam médicos, remédios, que as pessoas tenham que esperar meses para realizar uma consulta ou exame na cidade mais rica do Brasil. Uma de nossas prioridades vai ser contratar mais médicos e funcionários para atuar nas UBS das periferias. Assim, teremos equipe para desempenhar o PAI na região.
Gasparina – No seu programa de governo existe alguma ação sobre melhoria do transporte no Jardim Ângela? A Estação Metrô Hospital M’Boi Mirim, tinha sido programada para 2021.
Guilherme Boulos – A demora em entregar as estações de metrô é mais um retrato do jeito PSDB de governar São Paulo. Eles prometem, dizem que são eficientes, mas as obras nunca saem do papel – algumas foram embargadas pela justiça, outras são repletas de esquemas.
Na Prefeitura de São Paulo, vamos pressionar o Governo do Estado a entregar essas estações de metrô. Vamos investir pesado no transporte público com criação de novos corredores e faixas de ônibus para diminuir o tempo no trânsito além de obras de manutenção para tapar os buracos deixados pela atual gestão. Vamos fiscalizar de verdade as empresas de ônibus concessionárias do serviço para que coloquem número de ônibus adequado nas ruas, que estejam limpos e novos. Não dá para seguir premiando essas empresas pela superlotação do transporte. Nós vamos governar para o povo e não para os grandes empresários.
Zona Oeste
Ariovaldo Guello contador aposentado, um dos coordenadores do Fórum da Pessoa Idosa de Pinheiros.
Ariovaldo – Como seu programa de governo pretende trabalhar a questão da concentração do Carnaval na Zona Oeste, que tem provocado muito desconforto aos idosos. Como fazer para que os foliões possam se divertir em São Paulo sem perturbar os moradores?
Guilherme Boulos – É preciso estabelecer regras para o carnaval de rua em São Paulo, com horários e locais adequados. Mas além disso, precisamos começar a governar a partir do diálogo, ouvindo as necessidades de cada grupo e mediando o melhor caminho para todos.