Entrevista com Olga Quiroga criadora da Caminhada Contra Violência aos Idosos

As centenas de ações agendadas no Brasil, para abrir o Junho Violeta, em 15 de junho, Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, em 2020 perdeu uma das suas manifestações mais importantes, devido à pandemia da Covid -19. A Caminhada que, desde 2007, era feita pelas ruas do Centro da capital, em São Paulo, foi cancelada. A dificuldade dos idosos em participarem de forma online dificultou a realização de uma versão virtual simultânea, como chegou a propor o Jornal da 3ª Idade.

Para lembrar as edições anteriores, entrevistamos a sua idealizadora, Olga Leon Quiroga, coordenadora do GARMIC, Grupo de Articulação de Moradia para Idosos da Capital, conhecida nacionalmente pela luta para conseguir que as políticas públicas cumpram o Estatuto do Idoso e garantam acolhida para os idosos vulneráveis.

Chilena, nasceu na cidade de Los Andes, um município a 72 quilômetros da Cordilheira dos Andes, na região de Valparaíso, que hoje tem pouco mais que 62 mil habitantes. Veio para São Paulo no começo dos anos 60, quando a cidade tinha ainda mais problemas para os pobres e quando passou a ser militante da igreja católica, nas CEB- Comunidades Eclesiais de Base. Na família tem 4 filhos, 10 netos e 7 bisnetos.

Depois de morar por oito anos numa ocupação, conseguiu fazer a sua casa em mutirão, num bairro da periferia da Zona Sul, de onde já saiu para representar o Brasil em vários países, no debate sobre moradia.

Em dezembro de 2018, recebeu o título de Cidadã Paulistana, na Câmara Municipal de São Paulo, mas costuma dizer que é uma habitante do mundo e que seu coração mistura as cores de várias bandeiras. Por nunca ter se naturalizado, perdeu o direito de assumir a presidência do Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, quando foi a mais votada entre os eleitores idosos da cidade.

Jornal da 3a Idade – Como nasceu a Marcha e quais foram as principais motivações?

Olga Quiroga, coordenadora do GARMIC Fiquei sabendo, através de palestras da assistente social Marília Berzins, que em outros países já estavam sendo feitas reuniões e manifestações sobre as questões da violência contra a pessoa idosa. Tudo tinha começado no Encontro de Madrid, depois foi para o Canadá até que em 15 de junho 2006 aprovaram o projeto do Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa. Então, tive a ideia de fazer uma caminhada, com o pessoal do GARMIC, para que também começasse a entrar nessa discussão.

Jornal da 3a Idade – Quando foi realizada a primeira Caminhada?

Olga Quiroga, coordenadora do GARMIC  A primeira foi feita em 2007, ainda bem pequena, com o pessoal do GARMIC e com algumas pessoas trazidas pela Maria da Glória Abdo, do grupo Idoso Solidário que ela fazia parte e que era coordenado pelo Padre Ticão, na Zona Leste. Em 15 de junho de 2009 é que fizemos a Marcha, na porta da Câmara Municipal. O advogado da União dos Movimentos de Moradia, o Benedito Roberto Barbosa que é o advogado elaborou um projeto para entregarmos aos vereadores, com a intenção que a Marcha entrasse no calendário da cidade e pudesse ser realizada todos os anos. Esse documento foi entregue na Prefeitura, no Conselho Municipal do Idoso, na Coordenadoria do Idoso da Prefeitura de São Paulo e na Câmara Municipal, nessa ordem. Deixamos por último a Câmara com a ideia de sermos recebidos pelos vereadores. Só que o único que desceu para falar com a gente foi o Vereador Donato, que recebeu e assinou o documento.

Nesse mesmo ano, o Brasil produziu, o Plano de Ação para o Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa que trazia ações estratégicas a serem realizadas no período 2007-2010, tendo como foco a plena aplicação do Estatuto do Idoso e do Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento. 

Jornal da 3a Idade – Na Marcha de 2010, possivelmente a primeira com vários grupos de vários territórios da cidade, a senhora não estava presente. Por que?

Olga Quiroga, coordenadora do GARMIC Eu pedi que a saudosa Maria Eliete de Souza, que era uma das fundadoras do GARMIC me representasse, junto com a Neide Duque. Eu fui, na mesma época, para a Costa Rica, participar do encontro preparatório da 3ª Conferência Regional Intergovernamental sobre Envelhecimento na América Latina e no Caribe. A Marcha acabou sendo um evento muito importante. A Maria Glória Abdo novamente fez uma articulação e trouxe membros da ABAESP- Associação dos Bancários Aposentados. Tivemos uma grande ajuda da Dra. Mel, que era presidente da Comissão da Pessoa Idosa da OAB-SP, tivemos apoio da Dra. Cláudia Beré, do Ministério Público, da Renata da Defensoria Pública. Uma pessoa que nos ajudou muito foi a Andreia Poscai, que veio representando a Casa de Clara, do Sefras. A Pastoral da Pessoa Idosa também estava representada, bem como o Grupo Malatesta do SESC Carmo, o grupo idosos Solidários, Grupo Vida Ativa, de São Mateus e Fóruns do Cidadão Idoso de várias regiões. Todos também trouxeram bastante gente. Nesse dia é que ficou decidido que essa Marcha seria um evento pontual em todo 15 de junho. Desde então, nunca tínhamos deixado de fazer e em 2020 ficamos impedidos pela pandemia do Covid-19.

A Marcha realizada em 17 de junho de 2013. Foto: hb/Jornal da 3ª Idade.

Jornal da 3a Idade – Em 2018 a Marcha tinha muitas pessoas, mas em 2019 estava bem menor. Por que?

Olga Quiroga, coordenadora do GARMIC Ela tinha menos pessoas porque também cumpriu uma tarefa para a qual nos dedicamos que foi a de criar filhotes nos territórios. Vários fóruns passaram a realizar as suas caminhadas locais. Se por um lado diminuiu a do Centro, abriu possibilidades nas regiões com idosos participando nas suas comunidades.

Jornal da 3a Idade – A senhora que luta há muitos anos pela moradia do idoso, como está sentindo esse momento da Covid-19?

Olga Quiroga, coordenadora do GARMICCom uma preocupação cada vez maior, por que tem muitos idosos sem ter onde morar ou habitando lugares absurdos. São os mesmos problemas de sempre que se agravaram muito agora com a pandemia.

Jornal da 3a Idade – O que a senhora espera para a Marcha de 2021?

Olga Quiroga, coordenadora do GARMIC- Primeiro espero que muitos idosos consigam sair vivos dessa pandemia, que as pessoas possam voltar a ir aos postos de saúde, fazer o acompanhamento normal dos seus tratamentos. Enfim, voltar a vida normal. Espero que esse momento triste e difícil sirva para abrir a cabeça dos nossos governantes, dos políticos, para entenderem que se as pessoas se unirem a sociedade consegue fazer muita coisa. Quem tem o poder de decisão tem que entender que é preciso facilitar a vida de todos, não só dos idosos, mas de todas as pessoas que precisam.