

Entre as dezenas de eventos que aconteceram na tarde de ontem em São Paulo, para celebrar o dia 15 de junho, como “Dia Mundial da Conscientização Contra a Violência a Pessoa Idosa”, o Jornal da 3a Idade optou por acompanhar um dos mais significativos, para essa causa, exatamente por ter a participação de idosos que voluntariamente atendem outros idosos, que estão em situação de vulnerabilidade.
O encontro foi o promovido pela PPI- Pastoral da Pessoa Idosa da Arquidiocese de São Paulo, capitaneado pela sua coordenadora, a advogada Conceição Aparecida Carvalho, que contou com a presença do Promotor de Justiça de Direitos Humanos da Área do Idoso na Capital, Délton Esteves Pastore, com o Padre Helmo Cesar Facciol, Assessor Espiritual Arquidiocesano da PPI, a coordenadora Estadual da PPI, Thereza Maciel e mais de 130 pessoas, representando paróquias e trabalhos com idosos.

Quem imaginar que se tratou de um encontro somente religioso vai se enganar. Embora naturalmente tenha iniciado com a espiritualidade conduzida pelo Padre Helmo, a partir da palestra do Promotor Delton, que falou das especificidades da lei para os casos de situações de violência direta ou desrespeito aos direitos dos idosos garantidos em lei, aconteceu um rico debate.
Idosos, agentes pastorais que nas suas localidades presenciam diferentes situações de violência aos idosos, camufladas pelos próprios idosos que atendem, deram seus testemunhos da dificuldade de caracterizá-los perante a lei, principalmente porque na maioria das vezes ele ocorre dentro da própria família.

Infelizmente cada vez mais o agente da Pastoral da Pessoa Idosa presencia situações em que fica evidente os maus tratos ao idoso que está sendo acompanhado. Em muitas situações a pessoa idosa que foi vítima explica para nós o que aconteceu e quem foi, mas quando orientamos a ir a uma delegacia eles se negam, porque quase sempre é um membro da família. A pessoa idosa agredida tem medo que o seu neto ou mesmo filhos possam ser indiciados ou até mesmo presos e preferem não registrar uma queixa, explicou Thereza Maciel, professora aposentada e eleita pela segunda vez pelos coordenadores diocesanos para conduzir a PPI Estadual.
Uma das mais atuantes e destacadas líderes da Pastoral da Pessoa Idosa de São Paulo tocou no assunto mais importante do país, nesse momento: a crise de autoridade e o desrespeito às instituições.
Outro dia, na minha paróquia eu percebi uma senhora cheia de hematomas no pescoço, Quando perguntei quem tinha feito aquilo ela contou que tinha sido a nora. Eu marquei uma visita na casa dela. Uma assistente social que é da PPI foi vestida com a nossa camiseta. Percebemos que a relação mudou naquela casa e a nora já chegou a acompanhá-la, recentemente numa missa. O que deixamos claro para a família foi que a idosa não está sozinha, que existem pessoas que a estão acompanhando e que essas pessoas conhecem leis e o direitos dos idosos. E se a família não respeitar a sua idosa terá que respeitar a nossa instituição, contou Eunice Lopes Alves coordenadora da PPI na Paróquia São João Clímaco, na Zona Sul da Capital, que tem 32 líderes comunitárias sobre a sua orientação.
Na sua palestra o Promotor Délton Esteves Pastore, explicou sobre as leis existentes e as várias formas das pessoas identificarem e registrarem os casos de agressão e maus tratos. Ele destacou as várias iniciativas públicas que existem para ajudar aos idosos e ressaltou a importância do registro escrito das solicitações, quando várias pessoas da platéia reclamaram da falta de canais de atendimento.
O registro por escrito da existência de maus tratos é sempre importante, pois oferece a possibilidade para que o caso tenha continuidade, principalmente quando entregue ao Ministério Público o que nem sempre ocorre em outros departamentos de atendimento público. Sempre que uma pessoa que tenha atuação comunitária possa, deve registrar por escrito a violação de direito ocorrida a uma pessoa idosa. As vezes isso não serve para o momento, mas pode ajudar a elucidar um caso no decorrer do processo. O medo da prisão imediata de um familiar é infundado, a não ser em caso de flagrante, mas o indiciamento sim é possível, explicou o Promotor Délton Esteves Pastore.
A falta de capacitação de profissionais que estão a serviço do atendimento aos idosos, tanto em instituições particulares como públicas foi a maior reclamação apresentada por diferentes pessoas da plateia, durante o debate.
No final do encontro foi lembrado para todos da eleição para o Grande Conselho Municipal do Idoso, da Prefeitura de São Paulo, que ocorrerá no próximo sábado, em todas as Subprefeituras da cidade. A PPI apresentou Conceição, moradora da Zona Oeste, como a representante que gostaria de ver eleita.
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