

A ABRAZ- Associação Brasileira de Alzheimer promove na noite da terça-feira, 27 de março, no Colégio Arquidiocesano, na Vila Mariana, em São Paulo, uma roda de conversa com a arquiteta Miriam Morata Novaes, autora do livro “Alzheimer Diário do Esquecimento”, em que ela relata a experiência vivida com seus pais, que foram portadores da doença.
O encontro é uma oportunidade imperdível para quem está começando a viver essa situação ou mesmo daqueles que já são cuidadores. Para os profissionais de saúde, que lidam com as famílias dos doentes, é uma chance de entender os sentimentos de quem se dedica com amor e muita paciência ao seu familiar.
Quando lançou o livro, no ano passado, o Jornal da 3ª Idade entrevistou a autora que resumiu como foi essa vivência familiar até o momento de editar seu livro.
Jornal da 3ª Idade– O que levou você, que não era uma estudiosa do envelhecimento escrever um livro sobre a doença de Alzheimer?
Miriam Morata Novaes– Meus pais tiveram Alzheimer. Quando meu pai teve os primeiros sintomas a gente não acreditava. Ele saia para trabalhar e não chegava na empresa. Minha mãe ligava e ele dizia que estava procurando o cachorro. Realmente o cão tinha sumido, então a gente achava estranho, mas possível, já que ele gostava do animal. Então ele começou a alterar o comportamento, mas a gente sempre tinha justificativas: numa hora achávamos que ele tinha ficado depressivo com a fuga do cão; depois era porque estava velho. Até que chegou um momento que resolvemos levar no médico e aí a doutora contou que ele tinha Alzheimer e que não poderia mais ficar sozinho.
Jornal da 3ª Idade– E a evolução da doença foi muita rápida?
Miriam Morata Novaes– Em um ano meu pai era outra pessoa. Ele deixou de ser um homem extremamente estudioso e ativo para ser uma pessoa que chegava numa lanchonete, enfiava todas as batatinhas na boca e não conseguia mastigar. Eu fiquei assustadíssima e comecei a procurar informação e ajuda. Foi quando tive a ideia de escrever um diário, para não perder nada, e assim nasceu um Blog. Os médicos não têm a sensibilidade de entender a bomba que cai no colo de quem está do lado. O Alzheimer adoece a família inteira. Eu fiz esse diário até 2007, até ele morrer.
Jornal da 3ª Idade– Como foi cuidar da sua mãe, já com a experiência anterior?
Miriam Morata Novaes– Em 2014 minha mãe começou a demonstrar os sintomas. A minha reação já foi outra. Eu já conhecia a doença, já sabia como lidar. E uma das primeiras coisas foi retomar o diário, que eu tinha começado com meu pai. Minha mãe foi ainda mais assustadora, porque meu pai morava com ela e tinha uma senhora que ajudava. Minha mãe morava comigo e aí eu era a cuidadora 24 horas por dia. Tive que parar o doutorado, para a dirigir a ONG que eu presido, cancelar minhas palestras, tudo. Quando eu conseguia alguém para ficar com ela, não queria voltar mais depois. Minha mãe falava aquelas bobagens, acusava as pessoas de pegar coisas. Ninguém queria voltar. Minha mãe ainda tinha um agravante, ela tinha câncer de pele no braço que estava acabando com ela.
