Secretário Nacional do Idoso, fala dos projetos que o novo Governo não poderá parar

Rogério Ulson é médico,Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa . Foto: jornal3idade.com.br
O médico Rogério Ulson, Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa. Foto: jornal3idade.com.br

No mês que completa um ano de funcionamento da Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (Lei 13.345/16 sancionada pelo presidente Michel Temer no ano passado) o seu presidente Rogério Ulson, falou ao Jornal da 3ª Idade sobre o que foi feito nesse primeiro período e o que está sendo deixado pronto ou encaminhado para o próximo governo.

Rogério Ulson é um médico com especialidade em Radiologia, que foi iniciado na carreira política ainda muito jovem, pelo seu cunhado Orestes Quércia. Foi secretário municipal de Esporte, Cultura e Turismo da cidade de Araras, onde nasceu. Em 2013, assumiu a Prefeitura de Analândia (SP). É empresário e já foi apresentador de televisão.

Até essa semana ele também é presidente do CNDI- Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, que escolhe novo nos próximos dias.

Jornal da 3ª Idade – Quando começou efetivamente a funcionar a Secretaria Nacional?

Secretário Rogério Ulson – A criação da Secretaria é recente. Ela nasceu em outubro de 2017 e eu comecei a trabalhar em abril de 2018.

Jornal da 3ª Idade – O senhor já tinha trabalhado diretamente antes com a questão do envelhecimento?

Secretário Rogério Ulson- Trabalhei quando fui Prefeito de Analândia e fizemos várias ações voltadas para os idosos. Na minha gestão foram colocados equipamentos nas praças para que os idosos fizessem atividade física. A cidade tem uma ILPI municipal que estava com muitos problemas e fizemos um trabalho de reestruturação, colocando nutricionista, enfermagem padrão e fizemos campanhas envolvendo toda a sociedade. Também quando fui Secretario de Esportes de Araras, nós tínhamos 500 pessoas que praticavam esporte em quatro ginásios. Esse era um trabalho que os idosos adoravam porque além do que proporcionava no dia a dia, era também uma preparação para o JORI- Jogos Regionais dos Idosos.

Eu tive também uma grande experiência particular pois cuidei até o fim dos meus pais, já falecidos bem longevos.

Jornal da 3ª IdadeSeu cargo é ligado ao governo atual, o que não lhe garante continuidade. O que o senhor pretende deixar de legado, caso não continue a frente da Secretaria?

Secretário Rogério Ulson- Não é só o meu cargo que é ligado ao atual governo. Toda a estrutura do Ministério também. A gente não sabe o que vai acontecer no próximo governo, diante de posições ideológicas divergentes que estamos vendo na política, no momento. O que importa é que – independente dos novos rumos- o novo governo terá que manter uma estrutura que cuide das populações vulneráveis, que é a missão do Ministério dos Direitos Humanos. Alguma forma de estrutura para cuidar de criança e adolescente, de portadores de deficiência e das pessoas idosas terá que existir. Até porque convênios foram assinados, inclusive com a UNESCO.

Jornal da 3ª Idade – Qual será seu legado para a causa dos idosos nessa sua gestão?

Secretário Rogério Ulson- Nós começamos um trabalho de cadastramento dos mais de 2 mil conselhos que existem no país e uma interlocução com todos eles. Estamos fazendo um mapeamento que não existia das ações com idosos em todas essas cidades.

Jornal da 3ª Idade – Na sua opinião qual é o motivo da maioria dos municípios do país não abrirem seus conselhos de idosos?

Secretário Rogério Ulson– A maior dificuldade é oferecer algum benefício para que se formem os conselhos. Podemos dar como exemplo o Estado de São Paulo. Hoje dos 645 municípios do Estado mais de 500 tem CMI, porque foi feita uma politica publica para beneficiar de diversas formas de beneficiar a cidade que tem o seu conselho. Os CMI precisam ter atividades práticas, daquelas previstas no Estatuto do Idoso, que possam realmente atrair a população. Nós fizemos um levantamento nos 2 mil conselhos do país e constatamos que em 30% deles fizeram durante esses anos de zero a uma reunião. Isso é muito pouco.

Jornal da 3ª IdadeA Secretaria é denominada de Promoção e Defesa da Pessoa Idosa. O que foi feito na sua gestão em relação a defesa da pessoa idosa?

Secretário Rogério Ulson Na questão da defesa nós temos participações em audiências públicas, eu participei pessoalmente de várias. Elaboração de notas técnicas, mapeamentos, elaboração de quadros estatísticos. O Disque 100- Disque Denúncia- que produz levantamentos que servem de bússola para as políticas públicas. Levantamentos cruzados como o da contaminação do HIV, que aumenta muito na população idosa. Isso nos indica a necessidade de um trabalho transversal com a Saúde. O governo precisa manter campanhas permanentes nesse sentido. Os idosos estão saindo cada vez mais, se relacionando cada vez mais e vêm de uma geração que não tinha hábitos de se cuidar como é preciso hoje.

Jornal da 3ª IdadeNo Congresso foi criada a CIDOSO e ela criou uma subcomissão para trabalhar na reformulação dos Estatuto do Idoso. A Secretaria vem participando desse trabalho?

Secretário Rogério Ulson– Nós temos participado em conjunto e fornecendo os subsídios que são solicitados. As notas técnicas que citei e os mapeamentos tem sido utilizado pela comissão. Eles têm feito muitas coisas.

Jornal da 3ª IdadeO senhor exemplificou as ações de Defesa. O que a sua gestão trabalhou até agora, na Promoção da Pessoa Idosa?

Secretário Rogério Ulson É nessa parte que o nosso trabalhou se aprofundou ainda mais. A criação de projetos que vão trazer benefícios diretos para os idosos no dia a dia, nos seus municípios. Temos quatro alvos de projetos: no turismo, na inserção digital, nos Esportes e atividade física e na Educação.

No Turismo estamos em contato com parlamentares para conseguirmos emendas de bancada que nos garantam recursos para adquirir micro-ônibus adaptados, com capacidade de 35 pessoas cada um para enviarmos aos municípios. Nós estamos fazendo contato com todas as secretarias estaduais de turismo para que nos solicitem esses ônibus para realizarmos os convênios. Nosso projeto é que a emenda venha para a Secretaria Nacional que vai repassar os recursos para as secretarias estaduais de turismo. Nos Estados serão feitos os processos licitatórios que nós vamos acompanhar. Caberá aos Estados bancar a manutenção desses ônibus, com o motorista, o combustível, a manutenção. Os Conselhos Municipais é que vão solicitar os ônibus e escolher as viagens, que por sua vez também serão viagens diferentes, viagens curtas, num raio de até 100 quilômetros. Dessa maneira não teremos o custo da hospedagem e vamos valorizar os conselhos na medida que os CMIs vão receber uns aos outros e mostrar a sua cidade. Poderão criar um evento de distração ou jogos. Os vereadores podem se envolver apoiando.

Na inserção digital temos um projeto em conjunto com a UNB- Universidade de Brasília, que tem a UNISER, com uma grande experiência nessa área, eles têm material didático com gameficação.  As pessoas idosas precisam aprender a mexer direito no celular, a criar um perfil nas redes sociais, aprender a buscar lugares antigos que lhes tragam lembranças. Isso vai ser muito importante, principalmente para os idosos mais fragilizados que estão em cadeiras de rodas, em hospitais. Estamos na fase de assinatura dos convênios. Nossa ideia é que as escolas não só trabalhem com esse modelo para os idosos e ainda abram um dia por semana para a integração com os jovens. Na UNB eles desenvolveram jogos onde existem personagens idosos que tem algumas dificuldades que precisam da ajuda das crianças e o contrário também. Elas se complementam na tarefa a ser alcançada.

Na Atividade Física é aonde estamos mais atrasados e não vamos conseguir realizar o nosso sonho que era de fazer ainda em 2018 os Jogos Nacionais dos Idosos, fechando o Ano de Valorização da Pessoa Idosa, nós trabalhamos para isso. Precisamos da transversalidade com o Ministério do Esporte que está com suas verbas muito curtas.

Na Educação a ideia é trabalhar por etapas, na base com o analfabetismo, com a inclusão digital, com a capacitação técnica que ajudará na reinserção no mercado de trabalho. Temos feito contatos com o MEC para buscar formas de atender o estudo da pessoa idosa, seja com vagas no Pronatec e no ensino superior. O ProUni, programa de bolsas de estudo do governo para cursos superiores tem tido sobras em cada semestre. Estamos trabalhando para que elas sejam destinadas aos idosos. Não queremos cotas para idosos, mas estímulos para os idosos.

Mas antes de tudo precisamos acabar com o analfabetismo que é a pior forma de exclusão social, em qualquer idade. Nós ainda temos muitos idosos analfabetos. O EJA (Educação de Jovens e Adultos) não está conseguindo atender por vários motivos. O horário é noturno e muitos idosos são da Zona Rural. Precisamos repensar esse modelo, inclusive porque colocar junto jovens e adultos, com níveis cognitivos diferentes não está atendendo.

São muitos trabalhos que estão sendo desenvolvidos e que tem que continuar para não perdermos os esforços já feitos, independente de quem ganhar as eleições.

Temos o trabalho com as ILPI de sugestão de um novo protocolo que gostaríamos ver implantado. Pelo Estatuto do Idoso a fiscalização das ILPI é feita pelo Ministério Público, pela Vigilância Sanitária e pelo Conselho Municipal. Nossa sugestão é que se agregue um protocolo mais humanista. Perguntar aos idosos se estão sendo visitados, como está a relação com a família, como está a satisfação dele com a casa.

Jornal da 3ª IdadeO senhor nos conta a execução de várias ações importantes. Porque elas não divulgadas?  Um trabalho de comunicação é também uma forma de defesa dos direitos dos idosos. A falta de saber o que está acontecendo é também um fator desmotivador para os Conselhos Municipais.  Como esses esforços não são contados regularmente, a gente as vezes pensa que nada está sendo feito em Brasília.

Secretário Rogério Ulson– Certamente a divulgação é importante, mas antes de faltar dinheiro para divulgação, falta dinheiro para as próprias atividades. Na verdade, a divulgação do trabalho com idoso tem que aparecer nos conselhos municipais. Eles é que devem ser a face social de todo o trabalho. A Secretaria se complementa com o Conselho Nacional. O CNDI é um órgão deliberativo e Secretaria é um órgão executivo.

Jornal da 3ª IdadeExiste algum risco de todas essas agendas já postadas pelo atual governo serem desfeitas pelo governo que vai entrar, seja ele qual for?

Secretário Rogério Ulson- Não, o que está agendado será realizado. Ainda esse ano, até o final de novembro, vamos ter a Ratificação da Conferência Interamericana. A 5ª Conferência Nacional já tem seus prazos determinados e nada poderá mudar.

Jornal da 3ª Idade – Com todas as polêmicas atuais vai demorar para o novo governo se situar e fazer suas composições para começar a trabalhar. Qual é o caminho do avanço mais rápido?

Secretário Rogério Ulson O caminho de avanço é no parlamento, porque no executivo sempre haverá o problema financeiro. Eu lhe falei da questão dos jogos, mas o governo remanejou quase todo o dinheiro do Esporte e da Cultura para o Ministério da Segurança. Também é importante, mas coisas como essa acontecem. Se for pelo Congresso vira lei e então tem que cumprir.