
Uma programação com palestrantes renomados na Gerontologia e nos Direitos Humanos vai debater as questões do envelhecimento a partir das necessidades da população idosa composta por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. O Seminário Velhices LGBT: a invisibilidade de um passado histórico, a esperança de um futuro de glória está marcado para o sábado, dia 25 de novembro, das 8h30 às 17h30, na sede do Instituto Carrefour, na Rua Paul Valéry, 255, na Granja Julieta.
O evento foi criado pela Eternamente SOU, uma organização não governamental em fase de implantação, nascida a partir da necessidade de viabilizar serviços e projetos voltados ao atendimento psicossocial a pessoas idosas LGBT, considerando suas crescentes demandas. Tem apoio do Vereador Toninho Vespoli.
A participação no seminário é gratuita, mas é preciso fazer a inscrição online.
Para entender melhor a proposta do seminário, o Jornal da 3ª Idade conversou com Diego Miguel, padrinho da #EternamenteSOU, Mestre em Filosofia (USP), Especialista em Gestão de Serviços de Saúde para Idosos (OPAS/OMS) e professor de pós-graduação em Gerontologia. Ele é o coordenador do evento, com o administrador de empresa Rogério Pedro, idealizador da ONG.

Jornal da 3ª Idade– A velhice de uma maneira geral é discriminada pela sociedade. Como gerontólogo acredita que as pessoas LGBT ao envelhecerem são ainda mais segregadas?
Diego Miguel – As pessoas LGBT são segregadas ao longo da vida e submetidas a diferentes tipos de violência de origem LGBTfóbica; os discursos atuais evidenciam um importante momento para a desconstrução desses mitos e preconceitos a fim de tornarmos uma sociedade mais sensível e acolhedora às diferenças, sejam elas de identidade de gênero, orientação sexual ou qualquer outra característica que componha sua identidade. A velhice é uma etapa da vida que é envolvida por muitos preconceitos e mitos. Não é difícil encontrarmos situações de violência por preconceito etário. Como será então para um idoso LGBT? Temos que urgentemente lutarmos contra a invisibilidade dessas pessoas e trazermos para a pauta das políticas públicas as demandas que são negligenciadas em nosso atendimento ao desconsiderarmos suas especificidades.
Jornal da 3ª Idade– Várias reportagens já apontaram dificuldades para as pessoas LGBT para serem aceitas em ILPIs. Isso ainda ocorre?
Diego Miguel – Sim, infelizmente. A questão do afeto e sexualidade na velhice, pela perspectiva heteronormativa é um tabu a ser desmitificado e vem sido debatido há alguns anos. Imagine então o tamanho dos desafios a serem enfrentados quando nos referimos ao afeto e a sexualidade homoafetiva ou ainda a identidade de gênero de pessoas idosas transgêneras ou intersexuais…
Há artigos que apontam para uma questão muito delicada, em que idosos acabam desconstruindo sua identidade de gênero, ou “voltam para o armário” para serem aceitos e sentirem-se integrados nesses serviços, tanto por parte institucional como de convivência com os demais residentes.
Jornal da 3ª Idade– O envelhecimento das pessoas LGBT difere do envelhecimento geral da população?
Diego Miguel – O processo de envelhecimento é único e pessoal. As oportunidades que temos ao longo da vida no acesso à saúde, educação, serviços de suporte social, cultura, entre outras tantas outras necessidades básicas que temos em nossa trajetória é que compõem o ser velho.
No caso de pessoas LGBT, estão inseridas às normas socioculturais de aceitação que não compreendem sua essência e estão expostas a uma maior vulnerabilidade social em contextos de marginalização por conta do preconceito e violência, muitas vezes até de âmbito familiar. Sem dúvidas esse processo de envelhecimento será diferente.
Não é questão de ser melhor ou pior, pois são muitos aspectos envolvidos, porém, no caso do grupo marginalizado, a negligência e a invisibilidade tende a ser maior.
Os acessos não se dão da mesma forma para todos, infelizmente. Precisamos pensar em oportunidades de acesso que favoreçam a equidade, que considerem as especificidades de cada um, afinal todos somos diferentes.
Temos implantados diferentes serviços para atendimento à pessoa idosa, mas ainda há muito a ser realizado, tanto em treinamento profissional, como em articulação e fortalecimento da rede socioassistencial e de saúde para atender de forma integral as diferentes demandas que emergem diariamente.
Jornal da 3ª Idade– Quais os objetivos de fazer esse primeiro seminário Velhices LGBT?
Diego Miguel – O I Seminário Velhices LGBT é uma iniciativa da ONG Eternamente SOU em parceria com a equipe do vereador Toninho Vespoli, que tem como proposta um diálogo inicial, considerando esse momento importante para aproximarmos pesquisadores, lideranças, profissionais, idosos e LGBT das questões oriundas da velhice LGBT em suas especificidades, problematizarmos e fomentarmos iniciativas conjuntas com serviços socioassistenciais e de saúde por meio de sinergias na atuação para a criação e fortalecimento dessa rede em construção.