Dr. José Carlos Campos Velho um dos organizadores do 1º Encontro Slow Medicine- A Medicina Sem Pressa. Foto: jornal3idade.com.brDr. José Carlos Campos Velho um dos organizadores do 1º Encontro Slow Medicine- A Medicina Sem Pressa. Foto: jornal3idade.com.br
Para debater amplamente as propostas da “Medicina Sem Pressa” a tradução mais próxima do Slow Medicine, nascido na Itália, o Instituto Slow Medicine Brasil vai realizar o 1º Encontro Brasileiro de Slow Medicine, no dia 7 de outubro, na Associação Paulista de Medicina.
A proposta do evento é debater amplamente como a “Medicina Sem Pressa” acredita poder resgatar princípios da prática médica esquecidos no dia a dia das cidades grandes, em consultas rápidas e profissionais de saúde correndo contra o relógio.
Dividido em módulos “Os Fundamentos da Slow Medicine”, “Slow Medicine: Opinião do Especialista”, “Iniciativas e Caminhos Compartilhados” e “Entrelaçamentos”, esse primeiro evento é voltado para médicos, estudantes de medicina, profissionais e estudantes de áreas de saúde e interessados em geral.
Para conhecer um pouco mais sobre a Medicina Sem Pressa, o Jornal da 3ª Idade conversou com o médico geriatra José Carlos Campos Velho, um dos responsáveis pelo evento e grande incentivador dessa prática médica no Brasil.
Jornal da 3ª Idade– Quais as principais propostas da Medicina Sem Pressa – Slow Medicine- para o atendimento do paciente, principalmente os idosos?
Dr. José Carlos Campos Velho– A Slow Medicine tem 4 pilares essenciais, o resgate do tempo como um elemento essencial na prática médica; a valorização do relacionamento médico-paciente, para a criação de laços sólidos e estreitos entre profissionais de saúde, pacientes e familiares; o compartilhamento de decisões, uma vez o paciente esteja adequadamente informado para esta tomada de decisões, e o uso ponderado da tecnologia diagnóstica e terapêutica na prática cotidiana. Embora tais atitudes certamente sejam apropriadas em qualquer atendimento médico, os idosos em particular se beneficiam com ela, pois frequentemente são portadores de vários problemas de saúde (polipatologia) e usam muitos medicamentos (polifarmácia). Nestas situações, a cautela na prescrição de exames e de medicamentos deve ser redobrada, pois o risco de efeitos adversos e interações medicamentosas cresce exponencialmente.
Jornal da 3ª Idade– O tempo da consulta faz muita diferença para o paciente?
Dr. José Carlos Campos Velho– O tempo de atendimento e o conhecimento da realidade do paciente e de sua família, podem fazer toda a diferença para que as melhores decisões sejam tomadas, apontando essencialmente para a preservação da qualidade de vida.
Jornal da 3ª Idade– Quando o senhor começou a estudar a Slow Medicine?
Dr. José Carlos Campos Velho– Meu primeiro contato com a Slow Medicine se deu em 2010, no Congresso da Sociedade Americana de Geriatria quando, ao participar de um colóquio sobre Humanidades em Geriatria, tive a oportunidade de conhecer o dr. Dennis McCullough, o principal mentor da divulgação das ideais da Slow Medicine em língua inglesa. O Dr. Dennis, autor da obra “My Mother Your Mother”, volta-se para a aplicação dos princípios da Slow Medicine em Geriatria, propondo uma desaceleração do processo de tomada de decisões em relação às questões de saúde. Ele era especialmente crítico ao uso excessivo de medicamentos em idosos. Em 2015, quando conheci as ideias do dr. Marco Bobbio, secretário da Associação Italiana de Slow Medicine e autor do livro “O Doente Imaginado” em evento no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, achei que era o momento de trazer esta filosofia para o Brasil e que a sua divulgação através de um site poderia ser um caminho adequado. Desde então tenho procurado aprofundar meus conhecimentos sobre a Slow Medicine, em livros, artigos e muita informação que está na internet. O site brasileiro (slowmedicine.com.br), do qual sou o editor, talvez reúna, de forma sistematizada, o melhor que foi produzido no mundo sobre a Medicina sem Pressa, em língua portuguesa.
Jornal da 3ª Idade– Como o senhor acredita que possa ganhar adeptos, nas grandes cidades do Brasil, com a medicina tão mercantilizada e judicializada?
Dr. José Carlos Campos Velho– Creio que a melhor forma de enfrentarmos a judicialização da saúde é através do resgate de um relacionamento saudável entre médicos e pacientes, onde a confiança seja o valor essencial, e as decisões sejam tomadas de maneira compartilhada, fazendo com que o paciente volte a ser o centro do cuidado e um participante ativo no que se refere a sua própria saúde – ou, mormente em geriatria, a necessária participação de sua família. E creio que uma proposta de uma prática focada na humanização do cuidado, cautelosa em relação à utilização da tecnologia médica, que evita as intervenções excessivas e/ou intempestivas, é uma resposta à tendência mercantilista da assistência médica atual. Não é demais afirmar que profissionais de saúde, pacientes e cidadãos estão descontentes com o rumo que a atenção médica tem tomado e que um cuidado mais amoroso e compassivo é desejo de todos. A Slow Medicine pode representar, juntamente com outras iniciativas com princípios e objetivos semelhantes, um novo paradigma na Medicina, o renascimento de um novo Humanismo, onde a pessoa volta a ser o centro da atenção e do cuidado médico.
1º Encontro Brasileiro de Slow Medicine – “A Medicina sem Pressa”
Dia: 7 de outubro de 2017 – Horário: 8h30 às 17h
Local: Auditório Verde da Associação Paulista de Medicina, Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 – Bela Vista/SP.